segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O SAMBA DO CAMARGO


Quem já ouviu falar no Samba de Roda do Camargo ?

Dos antigos moradores da “Velha Igaratá”, duvido quem desconheça.

Pelo menos a cada três meses acontecia.

No terreiro da casa do velho Camargo, ao anoitecer, aos poucos as pessoas começavam a chegar.

Quando estavam reunidas mais ou menos umas quinze pessoas, o Samba do Camargo começava. Era normal, os participantes levarem cachaça ou vinho para animar o samba. Um pandeiro e um bumbo, naquele tempo mais conhecido como “caixa”, eram os únicos instrumentos para fazer a marcação.

Formava-se uma roda, intercalando os homens e as mulheres, e ao som do batuque da caixa e do pandeiro, começavam a dançar.

Em certo momento, um dos mais antigos sambeiros gritava: “cachoeira”! Ele ia lançar o primeiro “ponto” a ser cantado. Ai a roda de samba parava e ele começava a cantar:

“O samba vai porque que não vai, se o samba não for eu não volto mais”!

Por uns cinco minutos, em coro todo mundo cantando, repetia o “ponto lançado até que outro repentista gritava: “ Cachoeira” ! A roda parava. Ia ser lançado um novo ponto para ser cantado por todos que participavam da roda de samba.

Vamos dar um exemplo:

“No alto daquele morro tem um pé de goiabeira, o rico dorme na cama e o pobre na esteira”!

Começava então o repique da caixa, do pandeiro e todo mundo começava a dançar e cantar o novo ponto lançado. Só parava quando outro sambeiro gritava “cachoeira”!

Ai o “ponto” que tinha sido cantado umas cinco vezes ou mais, ia ser mudado.

“Eira era uma rima um pouco difícil. Não era muito fácil improvisar outro
Ponto, para substituir o que estava sendo cantado. O samba tinha que continuar na mesma rima.

Enfim, alguém conseguiu improvisar uma rima e gritou: “Cachoeira”!

“Você falou em goiabeira eu falo em bananeira, misturar rico com pobre é fazer muita besteira”!

Ai o samba continuava e o maioria dos sambeiros, iam apresentando o seu ponto para ser cantado.

Mas sempre tinha alguém que naquelas alturas, já estava meio “chumbado”, querendo dar uma de repentista, gritava. “Cachoeira”.

Começava então a entoar o “ponto” que ele tinha bolado. Não demorava muito se enrolava todo. Saía fora da rima e se mandava bem de mansinho.

Nessa hora, gozação era o que não faltava.

Mas sempre aparecia alguém mais esperto e pedia para mudar a rima, pois a que estava sendo cantada praticamente a rima “eira,” já estava esgotada.

Não havia objeção. Todo mundo concordava, pois o samba tinha que continuar. Varava noite à dentro, chegando às vezes até o dia clarear.

Ainda me lembro! As bebidas consumidas eram a cachaça do Ignácio Fortes, do João Tolino e o vinho da marca Gatinho.

Como acontece em todas as festas, quando as bebidas começam a sumir de circulação, o pessoal também começa a debandar. Aos poucos o terreiro ia ficando vazio.

Tenho certeza que, ainda tem algumas pessoas daquela época, que sente saudade do famoso “Samba do Camargo”.

Além desse “samba”, o Velho Camargo realizava as tradicionais festas juninas em louvor a Santo Antonio, São João e São Pedro.

Era escolhida a data de um dos santos que coincidisse com um sábado ou domingo, para que, numa festa só, se homenageasse os três santos.

Ao encerrar esta narrativa, quero expressar meus agradecimentos à família Camargo, que muito colaborou para o enriquecimento do folclore igarataense.

domingo, 20 de dezembro de 2009

CARNAVAL DE RUA - VELHA E NOVA IGARATÁ


Agora vou relatar para vocês sobre dois carnavais. Um realizado na Velha Igaratá e outro na Nova Igaratá.

No meu tempo de jovem, lá pelos anos de 1960, o carnaval na Velha Igaratá era realizado da seguinte forma:

Começava no sábado na parte da tarde, já que naquela época a maioria das pessoas trabalhavam até às dezessete horas.

Era tradicional a saída do “BOI” pela rua principal.

O “BOI” era constituído de um jacá de taquara com um metro e meio de comprimento por oitenta centímetros de largura, com uma cavidade no meio.

Para completar a estrutura do “BOI”, na parte da frente do jacá, era colocada uma carcaça da cabeça de um boi, totalmente descarnada e pintada, permanecendo apenas os chifres.
Na cavidade existente no centro do jacá, o folião se ajustava para comandar, sendo colocadas duas cordas presas no “BOI” como se fossem suspensórios, para que o folião pudesse suportar o peso e ter mais agilidade.

Um grande pano cobria totalmente o jacá. A roupagem e a máscara usada pelo folião, o tornava totalmente incógnito. Somente as pessoas que participavam da montagem é que sabiam quem era a pessoa que comandava o “BOI”.

Poucas pessoas se aventuravam a sair pela rua principal. O “BOI” pegava pra valer.

Quando você menos esperava, lá estava ele saindo de um beco ou de uma casa velha
abandonada, sempre em disparada atacando todos que pela frente encontrava.

Só as mulheres e crianças eram respeitadas.

Quem mais se destacava no comando do “BOI”, era o Tião do Orioste, pela sua índole extrovertida. Ele se realizava quando conseguia chifrar e derrubar alguém.

Pouco se importava se machucava ou não, apesar de nunca ter acontecido algum caso grave. O que mais valia era o susto.

A importância de ficar incógnito, era para se livrar de ir em “cana”, caso a polícia aparecesse, o que era muito difícil. Mas se caso acontecesse, tanto o folião e o “BOI” se evaporavam.

A noite começava o carnaval de salão.

Lá pelas oito horas, o Chico Lourenço, com o inseparável cavaquinho, o Zé Igaratá com seu violão e uma gaita de boca adaptada ao mesmo, o João do Orioste com o seu famoso bandolim, o Zé Camargo com o surdo para fazer a marcação, o Abrãozinho no pandeiro e eu no repique, nos reuníamos no único salão que existia. Não tinha mais do que cinco metros de largura por quinze de comprimento.

Era o salão de snooker do João do Bar.

A única mesa que existia, já estava encostada num canto e sobre ela era armado um pequeno tablado, onde a nossa pequena “orquestra” se ajeitava.

Era inicio do carnaval de salão.

Nesses dias, a energia boa fornecida pelo gerador diesel, ia até à meia noite. Daí em diante, a folia continuava sob os lampiões Aladim colocados estrategicamente.

Ainda me lembro.
Na terça-feira “gorda”, o baile terminava pontualmente à meia noite. Após esse horário era considerado sacrilégio, já que estava iniciando a quarta-feira de cinzas. Havia um respeito muito grande pelos ensinamentos da igreja.

O baile parava, os instrumentos eram desafinados, guardados e só voltavam à baila quarenta dias após. Só no sábado de aleluia.

Na Nova Igaratá, somente à partir de 1988 é que se começou a organizar o carnaval de rua. Até então, só o Igaratá Social Clube é que comandava. Existia apenas carnaval de salão.

Certo dia, batendo papo com o Mirão e a Josete, começamos a bolar como se conseguiria pelo menos, colocar um bloco na rua.

Muitas pessoas não tinham condições de arcar com o preço do ingresso para entrar no clube para poder brincar no reinado de Momo. Esta seria uma forma de se poder agradar a todos.

O tempo era escasso. Faltavam apenas dois meses para inicio do carnaval.

Quem mais entendia da arte era o Mirão, folião nato. Este ficou incumbido de organizar a bateria e as alas que iam compor o bloco.

A Josete ficou com a tarefa de convidar a moçada, preparar as fantasias e alegorias.

Eu fiquei como “Coringa”! Ajudar em tudo que precisassem
.
A animação começou.
Mirão recrutou todos os jovens que soubesse pelo menos um pouco de batuque. O importante era ter ritmo e cadência.

Aos sábados nos juntávamos na praça principal, e lá pelas vinte horas começava o ensaio.

Mirão, muito dedicado, mas também de personalidade forte, não tolerava a menor falha. Ficava de olho em todos os componentes da bateria. Um pequeno desvio era o bastante. O apito tocava e tudo parava. Começava a discussão.

Ai era a hora do deixa disso! Calma! Tivemos tanto trabalho, não podemos desistir agora!

O que de fato acontecia, era que os nossos jovens, não acostumados a receber ordens, não entendiam. A disciplina tinha que ser rigorosa. O Mestre da Bateria era obrigado a ser exigente. A glória ou o fracasso eram de sua inteira responsabilidade.
No fim tudo deu certo. A Bateria ficou tinindo!

A Josete, com a ajuda da Siluca, Caetana, Nena, Mara, Dalila e outras mais, conseguiram em tempo hábil confeccionar as alegorias e fantasias que comporiam as alas do Bloco. Baianas e Havaianas predominavam.

Faltavam apenas vinte dias para o Carnaval, quando o Mirão me chamou num canto e disse: Varlei, praticamente está tudo dentro dos conformes, mas ironicamente falou: está faltando o fundamental, meu irmão!

Não me contendo, retruquei: Não te entendo! Se está tudo em ordem, como falta o fundamental ?

Ai ele me respondeu: Você já viu uma Escola de Samba ou um Bloco carnavalesco desfilar sem um samba enredo?

Se vira “peão”, você não é quadrado!

Meu Deus! Não dá tempo para mais nada. Como divulgar em tempo hábil o tema para que os compositores apresentassem seus sambas? Como fazer o julgamento e a escolha do melhor samba enredo?

A bomba estourou na minha mão!

Jamais tive a pretensão de ser compositor e “puxador” de samba.

No reduto do meu quarto, de posse de um violão e um gravador, comecei a rabiscar e compor o seguinte samba:

Nome do Samba: CANOA ALTA.
Tema: RELEMBRAR O PASSADO E FALAR DO PRESENTE.
Todos os dias, ao anoitecer, eu com a minha Belina, encostava de frente a padaria e em outros estabelecimentos comercias, abria as portas, colocava a fita para tocar e distribuía a letra para que o pessoal pudesse apreender e acompanhar.

Durante o desfile o povo emocionado, aplaudia com muita alegria.

Talvez a emoção de ser o primeiro carnaval de rua.

Pois é, caros leitores. Não sei se foi aquele carnaval de rua esperado.

De uma coisa eu sei:

Plantamos a primeira semente!

É pena que o Blog não aceita gravar a música do samba enredo. Mas pelo menos ficam conhecendo a letra.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

CANOA ALTA

Enredo do samba do 1º carnaval de rua -1988
Tema: Relembrar o passado e falar do presente
Letra e Música - Varlei Antonio Péres

Chegou a hora
nossa escola vai sair
Canoa Alta (bis)
pelas ruas vai surgir.

Canoa Alta
muito alegre navegando
e pelas ruas
o povo todo desfilando.

O passado saudoso
vai ficando bem distante
as palmeiras em leque
continuam verdejantes.

Hoje tudo é alegria
samba suor e fantasia
vamos todos desfilar

das tristezas esquecer
pois o leite derramado
não adianta chorar.

Chegou a hora... (bis)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

PIQUIRÁ

Ai que saudades que dá!

Hoje me vem na lembrança, uma das mais belas maravilhas da Velha Igaratá.
A cachoeira do Piquirá!

Após a junção dos Rios do Peixe e do Jaguari, formava-se uma grande cachoeira batizada com o nome de Piquirá.

Na realidade, não era bem uma cachoeira, já que era formada por inúmeras quedas d’água de no máximo dois metros de altura, com uma extensão aproximada de quinhentos metros.

No final da corredeira, uma grande lança de pedra invadia até a metade do leito do rio, formando logo abaixo um grande remanso.

Do lado esquerdo de quem descia a corredeira, bem em frente a esse remanso, morava o César. No final, relatarei quem era o César.

Piquirá! Poucos sabem a origem desse nome.

O fenômeno que conhecemos como Piracema, somente ocorria nessa corredeira.

Após a subida dos peixes, ocorria a desova e conseqüentemente nasciam as chamadas “piquiras”. Nome oriundo da Língua Tupi/Guarani, que significa peixe pequeno.

Essa era a época esperada, principalmente pela população mais carente.

Indefesas centenas de milhares de piquiras tentavam transpor as pequenas quedas d’água, onde se tornavam presas fáceis.

Um dos lugares mais disputados para a captura das piquiras, era chamado de Bico da Pedra.

De posse de um instrumento rudimentar, constituído de uma vara de bambu, adaptando-se a mesma uma peneira do mesmo material, aquelas peneiras que se usava para escolher feijão, a pescaria estava feita.

Numa única noite, era possível até, encher dois jacás de piquiras, que seriam transportadas no lombo de um burro, para serem comercializadas na Velha Igaratá e até em Santa Isabel.

A piquira não tinha mais do que três centímetros. Podia ser fritada para se comer na hora ou transformada em paçoca, a qual poderia ser estocada por um bom tempo.

Nessa época, quando os peixes subiam o rio para a desova, tornavam-se também presas fáceis.

César que morava no Piquirá, conforme anteriormente relatado, com muito custo sobrevivia da criação de algumas cabeças de gado, pequena roça de milho e feijão, também estava atento. Era a hora certa de construir o “Pari”.

César conhecia muito bem a corredeira do Piquirá.

Do mesmo lado onde morava, formava-se um canal paralelo a corredeira, com mais ou menos dois metros de largura, preferido pelos peixes para a subida, já que as águas, mesmo bastante agitadas, nesse canal eram mais mansas, permitindo com mais facilidade a escalada dos peixes para a procriação.

Vamos agora falar do “Pari”.

“Pari” era uma armadilha rudimentar construída com bambus e uma tela de arame, a mesma utilizada para se construir um galinheiro.

Os bambus eram colocados horizontalmente formando paredes dos dois lados do canal.

Quase no final do canal, a tela de arame era colocada deitada, num espaço de mais ou menos dois metros, permitindo dessa forma a passagem da água.

Os peixes, tentavam superar os obstáculos, e os que não conseguiam, caiam na tela e se debatendo pela falta d’água, não tinham outra saída, deslizavam pelo corredor formado pelos bambus, onde facilmente logo mais abaixo eram capturados.

Infelizmente, naquele tempo, a fiscalização, a conscientização do povo praticamente não existia.

A fiscalização deveria sim existir, não para penalizar a população, pois a maioria era carente, mas sim para orientar que esse procedimento, a pesca predatória dizimaria em pouco tempo os cardumes, transformando-se numa arma fulminante contra os próprios pescadores que assim agiam inocentemente.

Enfim, o bom mesmo é lembrar, da pujança dessa corredeira, que para quem não teve a felicidade de conhecer, pode ter uma noção, se compara-la com as famosas “Sete Quedas” que também teve o mesmo destino.

Para o desenvolvimento do nosso País, para a construção de um reservatório para a regularização do Rio Paraíba, como foi o nosso caso, ou para a construção de usinas hidroelétricas, desapareceram definitivamente da face da terra !

PESCARIA NO PIQUIRÁ

Agora vou narrar sobre um dos poucos lazeres da Velha Igaratá.

O Gustavo Claudiano era o Coletor Estadual, o Chico Lourenço era o Tesoureiro da Prefeitura e eu era funcionário dos Correios e Telégrafos.

O nosso lazer predileto era pescar.

Certa vez como já era de costume, partimos para uma pescaria. O local escolhido era um braço de rio pertinho do Piquirá. Diziam que lá não se perdia a viagem. Bagres e traíras eram o que mais tinham.

Será que era verdade mesmo? Para se ter certeza mesmo, só indo lá conferir.

Numa tarde calorosa, lá pelas cinco da tarde, cada um com duas varas já preparadas, saímos em busca dos peixes que conforme comentavam, lá existiam e muito.

Da Velha Igaratá até o local escolhido a distancia era de mais ou menos uns quatro quilômetros. Da “Vila” até a ponte do Jaguari, a estrada era a estadual que ligava Igaratá à Santa Isabel. Após passarmos a ponte dobrávamos à esquerda, pegando a estrada municipal que ligava Igaratá à Jacareí.

Enquanto o Chico Lourenço ia assobiando, pois era o que mais gostava de fazer quando caminhava, o Gustavo e eu fazíamos planos de como preparar os cuscus e os bagres ensopados que pretendíamos fazer e saborear após a pescaria.

Há um quilômetro do local, deixávamos a estrada municipal, e pelas trilhas feitas pelo gado, enfrentávamos um sapezal com mais ou menos um metro de altura. Enfim, chegávamos ao local.

Como o braço do rio era pequeno, pois só recebia água na época das chuvas que aumentava o nível do Rio Jaguari, ficávamos pertinho um do outro, mais ou menos uns três metros de distancia.

Começava a escurecer. Era a hora certa das puxadas dos bagres e das traíras.

De repente, o Gustavo consegue tirar um bagre e o Chico Lourenço fisga uma traíra. Eu, nada!

Estou distraído, e quando olho, a vara embodocou tanto, que a sua ponta já estava dentro da água. Dou aquela fisgada! A vara quebra-se ao meio. Desesperado, consigo pegar a ponteira da vara e puxar. O Gustavo e o Chico Lourenço, com os olhos arregalados cochichavam: que cara rabudo! Esse é dos bons!

Antes fosse. Mas que desilusão!
O peixe não era nada mais nada menos que um cágado tamanho família! Nessa altura da pescaria, fiquei apenas com uma vara. A reserva já era.

Não foi necessário mais do que dez minutos para sentir outra carregada. Não preciso nem repetir. Outra vara quebrada, outro cágado!

Gustavo e o Chico Lourenço esborrachavam de tanto rir. Gustavo dizia: Varlei é o rei do peixe bolacha!

Quando o lugar fica infestado, é melhor desistir. Os peixes somem como por encanto.

Resolvemos então retornar à Vila. Estava escuro que nem breu!

Gustavo sai na frente com seu farolete, com as pilhas quase descarregadas, não iluminava quase nada.

De repente, um gemido na noite!

Cadê o Gustavo?
Estirado no chão, lá estava ele. Gustavo havia saído da trilha, e como o sapé estava muito alto, não percebeu e meteu o peito num cupim.

Gustavo não se dá por vencido. Levanta e sai na frente de novo.

Não chegou a andar mais do que cem metros e, vendo um lugar mais claro, resolve dar um pulo.

Que desastre! Gustavo cai sentado em cima de uma vaca branca!

Outro gemido na noite!

A vaca se levanta assustada, Gustavo cai para um lado, e os poucos bagres e as varas para o outro lado.

O Chico Lourenço e eu rachávamos de tanto rir.

Na caminhada de volta, após pegarmos a estrada municipal, o assunto era um só.

Peixe bolacha, cupim, vaca espantada, e gemidos do Gustavo.

Que peixe ensopado, que cuscus que nada!

Foi mais uma pescaria frustrada...

ORIGEM DO MUNICÍPIO DE IGARATÁ

O Município de Igaratá originou-se da antiga Capela de Nossa Senhora do Patrocínio em território de Santa Isabel.

Elevado à Freguesia com o mesmo nome em 1864 e, incorporado ao Município de São José do Paraitinga, ficou pertencendo ao termo de Jacareí e São José.

Elevado a Vila com o mesmo nome em 1873, continuou pertencendo ao termo de Jacareí e São José.

Passou a pertencer a Comarca de Santa Isabel pela Lei nº 80 de 25 de agosto de 1892.
A Lei nº 1.042 de 22 de dezembro de 1906, mudou o nome de Patrocínio de Santa Isabel para Igaratá.

O nome Igaratá é originário da Língua Tupi/Guarani, que significa “CANOA ALTA” (IGARA-TÁ).

Reconduzido a condição de Distrito de Paz pelo Decreto nº 6.448 de 21 de maio de 1934, foi anexado ao Município de Santa Isabel.

O Município foi restabelecido pela Lei nº 2.456 de 30 de dezembro de 1953, publicada no Diário Oficial do Estado em 1º de janeiro de 1954.

Com a construção da barragem, no dia 5 de dezembro de 1969 as comportas foram baixadas, iniciando o represamento do Rio Jaguari e a formação do reservatório com o mesmo nome.

Esta foi a data imposta pela CESP para a desocupação das áreas a serem inundadas, inclusive a sede antiga do Município, carinhosamente chamada de “Vila”.

Através da Lei nº 317 de 14 de dezembro de 1971, na gestão do então Prefeito José Pinto da Cunha, foi instituída a data de 5 de dezembro de 1969, a data de fundação da nova cidade.

A Lei nº 355 de 6 de novembro de 1973, na gestão do Prefeito José Afonso Barbosa, revogou em todos os termos a Lei nº 317/73.

Conforme pesquisas, tomou-se conhecimento de que cada Município somente poderia instituir quatro feriados e estes já estavam definidos por outras leis.
Este foi o motivo alegado para a revogação da Lei 355/71.

Posição geográfica:

A posição geográfica desta cidade está localizada da seguinte forma:
Longitude: 46º 09’ 19”;
Latitude : 23º 12’ 24”.
Altitude: Pátio da Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio: 773,00 m acima do nível do mar.

Área do Município de Igaratá: 301 Km2.
Limites:

Igaratá limita-se com São José dos Campos, Jacareí, Santa Isabel, Nazaré Paulista Piracaia e Joanòpolis. ( o limite com o município de Joanópolis é de apenas 100 metros de extensão).

Feriados Municipais:
Fixos:
30 de dezembro – Comemoração da Emancipação Política Administrativa do Município;
05 de dezembro – Comemoração da Fundação da Nova sede do município.

Móveis:
Corpus Christi;
Sexta-Feira Sanra.
Cabe também lembrar que no dia 26 de novembro de 2004, a Lei nº 1.191 instituiu novamente a data de 5 de dezembro como a data de fundação da nova sede do município, revogando a lei que instituía a data de 13 de julho em comemoração a Nossa Senhora do Patrocínio. ( as festas em homenagem à padroeira são realizadas tradicionalmente no mês de novembro).

Caros leitores.
Aí vocês tiveram um breve relato da origem do Município de Igaratá como também sobre alguns dados importantes.

As pessoas que não foram nascidas neste Município, de alguma forma tomaram conhecimento da existência deste pedacinho do céu e para cá vieram para ajudar no crescimento e na prosperidade desta comunidade.

Eu também sou uma dessas pessoas e, a partir de agora, vou narrar como cheguei na “Velha Igaratá” e sobre tudo que pude guardar na memória durante os 60 anos dedicados ao Município de Igaratá.
Vamos viajar ao passado!
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A LENDA DO POÇO DO OURO

Como surgiu esse nome?
O Rio do Peixe, a uns duzentos metros antes de desaguar no Rio Jaguari, tinha uma bela cachoeira com a altura aproximada de cinco metros.

Após a queda d’água, formava-se um grande lago que ia afunilando-se até voltar ao leito natural do rio, onde logo abaixo desaguava no Rio Jaguari, onde começava a formar a corredeira do Piquirá.

Esse grande lago foi batizado com o nome de “Poço do Ouro”.

Consta a lenda, que na época da exploração das jazidas de ouro localizadas nas Minas Gerais, alguns feitores estavam desgostosos com aquela quantidade de ouro que era extraída e levada aos portos para serem embarcadas e transportadas para as terras lusitanas.

Certa feita, contando com o apoio de alguns escravos, resolveram se apoderar de parte desse ouro, pois como feitores, não teriam chance alguma de enriquecerem. Passariam o resto da vida tomando conta dos escravos e das extrações do ouro.

As altas horas da noite, após arriarem alguns burros e colocarem nas cangalhas alguns pilões de ouro, começaram a odisséia.

Vários eram os caminhos que levavam aos portos. Um deles passava justamente pela aldeia, que na época chamava-se Capela de Nossa Senhora do Patrocínio, antiga sede do município.
Esse foi o caminho escolhido.

Ao amanhecer do dia, os feitores, aliados à Coroa Portuguesa, descobriram a trama, pela falta de vários burros, escravos, feitores e principalmente pelo sumiço de vários pilões de ouro. Esse era o nome dado, pois o ouro ao ser forjado, tomava a aparência de um pilão.

Arriaram os cavalos restantes e começou então a perseguição aos vilões que haviam se apoderado de tamanha riqueza.

A tropa que transportava o ouro roubado seguia mais lentamente, pois os burros carregados de tanto peso, precisavam sempre parar para se alimentarem e descansarem.

Quando estavam próximos desse grande lago, uma sentinela que estava no local mais alto, enquanto a caravana se alimentava e descansava, avistou ao longe a tropa que vinha em perseguição dos fugitivos, com a finalidade de recuperar o ouro roubado e punir com severidade os ladrões ambiciosos, talvez com a própria morte.

Os feitores e os escravos fugitivos, vendo que tudo estava perdido, pois não teriam como escapar, já que os animais, além de estarem carregados e também muito cansados, resolveram então se livrar do ouro roubado.

Não querendo que o ouro fosse recuperado, jogaram todos os pilões nesse grande lago e se embrenharam pela mata nativa existente na época, escapando da tropa que os perseguiam.
Muito tempo passou e ninguém praticamente se lembrava ou falava dessa bravura que teria ocorrido.

Mas como é comum, sempre existe as famosas rodinhas de bate-papo, e um dos escravos mais antigo, narrou a existência desse acontecido.

Um fazendeiro muito poderoso da época tendo tomado conhecimento desse fato, resolveu elucidar o caso e tentar resgatar essa preciosidade que se encontrava no fundo desse lago, conforme narrado pelo escravo.

Juntou algumas parelhas de bois, vários escravos e capitães do mato, muitas correntes e saíram a procura do famoso poço que tanto era falado.

Ao localizarem o lago, começou então a procura pelos famosos pilões de ouro.

Dias e mais dias foram se passando e nada de conseguirem resgatar um pilão si quer. Já estavam desanimados e, a provisão de alimentos já estava chegando ao fim. Não poderiam ficar se alimentando apenas de caças, como capivaras, pacas e tatus que na época eram abundantes.

O fazendeiro desesperado, já não sabendo mais o que fazer, ajoelhou-se e prometeu que, se ele conseguisse resgatar pelo menos um pilão de ouro, daria metade à Santa.

Outras tentativas foram feitas, até que a corrente enrosca em algo no fundo do poço. O que seria? Algum pedaço de pau? Alguma pedra? O pilão de ouro?

As parelhas de bois começaram a puxar a corrente que aos poucos vai saindo da água.

De repente, começa a surgir um pilão de ouro, que com a luz do sol, brilhava tanto, chegando a ofuscar a visão de todos que estava à margem do poço.

O fazendeiro, estonteado com tanta riqueza, ficando fora de si, começou a gritar: Por que dar metade à Santa? Santo não precisa de ouro! Esse ouro é todo meu!

A corrente que podia suportar até o peso de um carro de bois, tem um ele estourado e o pilão volta ao fundo do lago.

Com o estouro da corrente, o fazendeiro, os capitães do mato, os escravos e as parelhas de bois que estavam à beira do poço, foram atingidos em cheio e morreram na hora. Os que estavam mais longe conseguiram se salvar e fugiram desesperados.

Pois é caros leitores, a ambição e o egoísmo são o que mais castigam o ser humano.

Nunca mais ninguém tentou recuperar os lendários pilões de ouro.

Hoje repousam num lago muito maior do que o “Poço do Ouro”!
A majestosa Represa do Jaguari!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Rua Direita - Principal rua da velha Igaratá


Rua Direita - Principal rua da velha Igaratá

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

SERENATAS AO LUAR

Durante a minha juventude, lá pelos anos 60, na Velha Igaratá, pouco se tinha o que fazer.

Nadar, pescar, jogar bola, snooker, e de vez em quando, um bailinho à luz de lampião, eram os únicos entretenimentos.

Para matar o tempo, formamos um conjunto com as seguintes pessoas: João do Orioste no cavaquinho, Abrãozinho no pandeiro, Zé Camargo no surdo e eu no violão.

Principalmente nas noites de lua cheia, lá íamos nós de porta em porta fazendo àquela gostosa serenata. As músicas prediletas eram as do Nelson Gonçalves como; A volta do Boêmio, Deusa do Asfalto, Renúncia por mim cantadas e outras de autoria de Waldir Azevedo e Jacó do Bandolim, soladas no cavaquinho do João do Orioste, sendo as mais solicitadas, Brasileirinho, Carinhoso, Doce de Coco, Pedacinho do Céu e muitas outras mais.

Geralmente, no encerramento, cantávamos a valsa Saudades de Igaratá de autoria da poetisa Petronilha de Souza, genitora do cartunista Mauricio de Souza.

Lá pelas vinte horas, íamos nós com destino ao sítio do Donzinho, distante uns três quilômetros da Velha Igaratá, carinhosamente chamada de “Vila”, bem a beira da Estrada do Rio do Peixe. Don também era amante da música romântica. Tinha um acordeom de oito baixos e sempre nos recebia com muita satisfação. Ficávamos mais ou menos até às vinte e duas horas.

Don jamais deixava sairmos sem primeiro oferecer um suculento café acompanhado de fartas guloseimas preparadas pela sua esposa Dª Giselda.

Essa era a hora que, aproveitando da nossa ausência da sala de visita, derrubava um pouco de rapé em cima dos instrumentos. Dá para perceber o que acontecia no nosso retorno. Ao dedilharmos o cavaquinho, o violão, as pancadas no pandeiro e no surdo, o rapé se espalhava pelo ar. Eram espirros para todos os lados. Ninguém sabia o que estava acontecendo. Só depois de muito tempo é que fomos descobrir.

Na volta para a “Vila”, a nossa primeira parada obrigatória era a chácara do Professor Jaime dos Santos, marido de Dª Cinira e genitor da Nanci mais conhecida na época como Dona Nanci do Cartório. Seu Jaime, professor aposentado, também era músico. Tocava um dos mais belos instrumentos musicais. O violino!

Aí ficávamos até às vinte e três horas. Éramos também muito bem recebidos pelo casal, sem, esquecer da Nanci com aquela simpatia que muito lhe é peculiar. Da chácara do Sr. Jaime até a “Vila” a distancia não passava de um quilômetro. Nesse ínterim, parávamos com a nossa seresta, já que não havia nenhuma casa nesse trecho. Precisávamos também tomar um fôlego, já que haviam mais duas paradas obrigatórias. A primeira, pertinho do Ribeirão das Palmeiras, há cem metros do centro da “Vila”. A casa do Zé Igaratá. Chegávamos bem na surdina para não despertar a família, pois o importante de uma serenata é a surpresa. É ser acordado com o som de música romântica e sentimental.

Após tocarmos uma ou duas músicas, pois geralmente de dentro da casa sempre era solicitado “mais uma”, era o que fazia nos sentirmos realizados. Zé Igaratá não deixava por menos: Deus lhes pague! Muito obrigado!

Assim continuávamos a nossa peregrinação até a janela da casa do Zezinho Vaz, já bem no centro da rua principal.

É normal, com a mudança da temperatura, as cordas do cavaquinho e do violão desafinarem. As vezes isso acontecia, e por nossa infelicidade, bem de baixo da janela da casa do Zezinho Vaz! Este não perdoava; antes de começarmos a seresta ele já gritava: Vão afinar os instrumentos lá na p. q. p. Vocês já devem ter interpretado o teor na frase.

Como já estávamos acostumado com essa reação, não ligávamos e duas ou três músicas eram por mim cantadas e soladas pelo cavaquinho do João do Orioste. No final acontecia o de sempre: Muito obrigado!

Com essa apresentação, terminávamos com a nossa serenata, pois já passava da meia noite. Cada um seguia para o seu lado...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Lembranças 10

PROFECIA OU COINCIDÊNCIA ?


Consta que há muitos e muitos anos, não se tem data precisa desse possível acontecimento, que na Velha Cidade de Igaratá, existiu um padre com sotaque estrangeiro, já com idade avançada, que era antipático, nervoso e muito severo.

A maioria dos católicos se sentia humilhada e constrangida com os maus tratos a que eram submetidas pelo pároco. A maioria da população que vinha de longe para participar das festas religiosas, nas quais era distribuído o tradicional café com biscoito para a população carente que chegava da zona rural, distante às vezes até 25 quilômetros da “Vila”, já havia sido suspensa por proibição do rancoroso pároco.

Estava se tornando cada vez mais difícil, no encerramento da festa, a nomeação de festeiros, que seriam dois casais, para o próxima ano. Era costume os festeiros, nomearem os seus sucessores com a aprovação do padre.

As exigências do padre estavam dificultando a aceitação de novos substitutos, que sempre arrumavam uma desculpa para se safarem dessa incumbência. A solução mais viável para o caso seria a substituição do vigário por outro que fosse mais dócil e compreensivo. Tentaram de tudo junto a Diocese para a sua substituição. Tudo em vão, nada conseguiram. Tinham que se sujeitar a severidade do sacerdote, que de forma alguma mudava o seu comportamento perante a população.

Para ficarem livres dos problemas, só havia uma saída: expulsar o padre da cidade!

Parte dos católicos não se sentia bem com a atitude que estava sendo tramada. Tinham medo de serem punidos por algum Santo ou talvez pelo Criador. Comentavam: onde já se viu expulsar o padre da cidade? Os demais pouco se importavam. O negócio era ficar livres dos maus tratos que até então eram submetidos. A Igreja estava cada vez mais vazia.

Num certo dia aconteceu! O padre foi escorraçado da cidade. Uns tremiam de medo, outros davam risada. O medo foi maior ainda quando, há uns quinhentos metros da “Vila” perto da Rua da Palha o vigário ajoelhou e esbravejando, como diz a crença, “rogou praga”, profetizando o seguinte: “ Que a cidade jamais iria crescer e progredir”e que um dia seria derrubada e desapareceria da face da Terra.

Alguns católicos tremiam de medo. Outros, dando risada diziam: “Coitado, além de velho já está caducando”. Vê lá se praga existe!

Bem, se praga existe e pega ou se foi coincidência eu não sei. O que eu sei é que nos vinte anos que vivi na “Velha Igaratá”, nada mudara. Parecia que vivia parada no tempo e no espaço. Mas o pior ainda iria acontecer.

No ano de 1968, justamente na época em que eu estava cumprindo o mandato de Vereador, gratuitamente, o Prefeito José Afonso Barbosa é notificado que estava sendo construída a Barragem do Jaguari e em conseqüência, grande parte do município e a “Vila” ficariam submersos. Todos seriam desapropriados e indenizados.

A população jamais acreditava. Dizia que não passava de mero boato. Que altura teria essa barragem para poder inundar a “Vila” com as águas do Rio Jaguari? Bobagem, isso nunca vai acontecer!

Infelizmente a população estava enganada.

Foi marcada a data de 5 de dezembro de 1969. Seria o último dia da existência da Velha Igaratá. Todos deveriam ter se mudado. Guindaste, com uma grande bola de ferro pendurada em uma corrente, terminava com a destruição das casas, ou melhor dizendo, dos casarões de taipa que foram construídos no século 19. O último prédio a ser derrubado foi a Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio.

Muita tristeza, muito choro da população, principalmente dos idosos. As lágrimas roladas contribuíram para engrossar as águas do Rio Jaguari. Eu que havia chegado em Igaratá em 1949, também não suportei. Foram vinte anos da minha vida. Infância e juventude, tudo estava chegando ao fim. Só restariam as lembranças! As doces lembranças e nada mais.

Hoje a Velha Igaratá, mais carinhosamente chamada de “Vila” repousa nas profundezas da Represa do Jaguari!

Pois é, meus amigos, se foi profecia ou coincidência deixo para vocês julgarem. O que posso afirmar é que a Velha Igaratá nunca prosperou, foi destruída de acordo com a “praga” lançada pelo vigário, conforme diz a lenda.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

LEMBRANÇAS 9

Esqueceram porém, que Alfredo era esperto. Esqueceram que a tragédia foi ocasionada por um acidente que poderia ter ocorrido com qualquer pessoa, em hora e lugar incerto. Ninguém, em sã consciência deixaria de evitar que tal infortúnio acontecesse.
O tempo passa e finalmente chega o dia da eleição!
A “Vila”, lugarejo pacato, aonde poucas pessoas transitavam, já que a população rural só aparecia nos fins de semana para adquirir as provisões necessárias, aos poucos foi se modificando. Ao amanhecer, funcionários da Prefeitura, atendendo notificação da Justiça Eleitoral, fazem a demarcação à cal do local de votação. A partir daquela risca, nenhum eleitor poderia ser abordado. Fato muito difícil de ser controlado, pois ambos os lados procuravam de dar um jeitinho para entregar as cédulas ao eleitor. Foi designado o Grupo Escolar onde foram instaladas as 1ª, 2ª e 3ª Seções Eleitorais. Presidentes e Mesários assumem seus postos nas respectivas seções a que foram designados. Precisamente às 8,00 hs. Inicia-se o processo de votação. Delegados e Fiscais de partidos, todos a postos.
Caminhões vindos da zona rural começavam a chegar “despejando” eleitores para cumprirem o dever cívico. Das cidades vizinhas, Santa Isabel e Jacareí, ônibus chegavam totalmente lotados. Nesse dia havia até carros extras.
Para quem estava acostumado com a monotonia da “Vila”, ficava estonteado com tanta gente transitando pelas poucas ruas existentes. Parecia um formigueiro quando está saindo içá. Cabos eleitorais não perdiam tempo. Bate papos, tapinhas nas costas, promessas, distribuição de santinhos, enfim o importante era convencer o eleitor a votar no seu candidato. Dentro do recinto demarcado, era proibida a abordagem aos eleitores. Nem todos respeitavam. De repente, discussões, atritos, e ameaças de representação ao Juiz Eleitoral. No final tudo terminava em samba, todos tinham o rabo preso. Ninguém tinha coragem de fazer qualquer representação, pois sabiam que também sobraria para eles. Enfim, todos puxavam a sardinha para o seu lado.
As horas iam passando, a cidadezinha aos poucos ia se esvaziando e ao anoitecer, tudo voltava ao normal. Apenas alguns grupos se reuniam nas esquinas onde cantavam a vitória. A venda de bebidas alcoólicas eram totalmente proibidas, mas pouco adiantava, pois todos já tinham feito a sua previsão, e na surdina, principalmente nas cozinhas dos bares, eram servidas.
A Apuração dos votos era realizada na Comarca no dia seguinte.
Como era de costume, os candidatos à Prefeito, no dia da apuração ficavam escondidos em lugares distantes da “Vila” aguardando o resultado. Se a notícia que chegasse fosse a derrota, o normal era tirar umas “férias” e desaparecer por um bom tempo de circulação. Sabiam que a comemoração da vitória organizada pelos correligionários do candidato vitorioso, era tão grande e barulhenta, tanto quanto as provocações.
Alfredo optou para ficar escondido há uns dois quilômetros da cidade, se não me engano no sítio do Zé Vicente. Mário que residia em Santa Isabel, por lá mesmo ficou.
Amanhece o dia! Dois ou três carros transportando eleitores e fiscais de partido, dirigiram à Comarca de Santa Isabel para assistirem e fiscalizarem a apuração dos votos. O clima era tenso! Pairava no ar uma sensação de dúvida que criava um certo mal estar nos que ficaram aguardando o resultado. Grupinhos foram se reunindo, conversando e analisando os fatos ocorridos no dia anterior. Assim pensavam: se o nosso candidato perder, o que se iria fazer? Ao mesmo tempo diziam; deixa prá lá, esta eleição já está no “papo”!
De repente a monotonia da “Vila” era quebrada!
Há uns quinhentos metros, perto da Rua da Palha, foguetes começavam a espocar. O resultado da apuração estava chegando. Qual seria o candidato vitorioso?
Mesmo sendo um local calmo, tranqüilo até demais, a pequena caravana que retornava de Santa Isabel, fazia um alarde tão grande, que mesmo pela pouca distancia, não se conseguia escutar qual era o candidato vitorioso.
Somente na entrada da “Vila” deu para entender o que gritavam. Alfredo, Alfredo, Alfredo! Viva! Ganhamos a eleição!
Alegria para uns, tristeza para outros. Inclusive para mim que era correligionário do Mário Dentista.
Alfredo, apelidado de “Morcego”, havia vencido a eleição com uma margem de 55 votos. A caravana não parou, continuou seu destino até o sítio do Zé Vicente onde estava escondido o Alfredo. Isso deu tempo para os políticos derrotados saíssem de circulação.
É fácil entender o porque dessa atitude. Se antes das eleições os insultos eram enormes, pensaram num confronto entre vitoriosos e derrotados em uma rua de mais ou menos 100 metros de extensão?
Mário como residia em Santa Isabel, por lá mesmo ficou amargando a derrota. Seus correligionários não se conformavam. Com tudo que havia acontecido, com a imprudência do “Morcego” desfilando pelas ruas estreitas da cidade com a “plaina” em dia de festa, causando uma grande tragédia, não era possível ter perdido a eleição, principalmente com Mário, natural de Igaratá para um estrangeiro! Alguma coisa deveria ter acontecido: só poderia ser erro na contagem dos votos!
Espernearam, gritaram, tentaram de tudo. Nada adiantou. A Justiça Eleitoral confirmou o resultado da apuração. Como dito anteriormente, a maioria dos eleitores se concentrava na zona rural. A “Vila” em pouco tempo foi se esvaziando, voltando a sua monotonia. A agitação de estar abordando os eleitores, já não havia mais razão. Tapinhas nas costas, promessas, já eram coisas do passado. Moacir, contente com a vitória, pois havia conseguido eleger seu sucessor, ainda no comando do Executivo, já que seu mandato expiraria no último dia do ano de 1958, começou a preparar os trâmites legais para a transferência do cargo.
Alfredo, com ar de superioridade, começava a programar o que pretendia realizar no seu quadriênio de mandato. Seus correligionários, cabos eleitorais, por outro lado, programavam como seria a festa da posse do novo prefeito. Logo após serem diplomados na Comarca de Santa Isabel, em ato solene na Câmara Municipal de Igaratá, dão posse ao novo prefeito e Vice, que conforme promessas, iriam dar continuidade aos trabalhos iniciados por Moacir, que no momento se despedia desejando muitas felicidades ao seu sucessor. Logo em seguida, sob aplausos da multidão e espocar de rojões, todos se dirigiram ao local programado para as comemorações.
De cima da carroçaria de um caminhão estacionado perto da Delegacia de Polícia, eram distribuídos fartos espetos de churrasco para a multidão que ali se aglomerava. Sem exagero algum, cada espeto tinha uma média de meio quilo de carne. Em frente, numa grande vala aberta com mais de vinte metros de comprimento, os espetos de carne deveriam ser assados. A fartura era grande! Deviam ter abatido uns cinco bois. Era carne para ninguém botar defeito. Como comparação, o único açougue que na época, se não me falha a memória, era de propriedade do Dito Barbosa, só funcionava uma vez por semana abatendo apenas um boi na sexta-feira para ser vendido no sábado.
Nem todos tinham condições de comprar carne. A maioria da população mesmo numa época em que praticamente não existia inflação, dava duro para ganhar o seu sustento. Roupas boas, calçados e carne de vaca eram artigo de luxo. O negócio então era aproveitar a oportunidade, principalmente quando havia distribuição gratuita de carne. Os mais carentes e humildes, sorrateiramente pegavam os espetos, davam uma esquentada no braseiro, saiam de mansinho como fossem comer num cantinho qualquer. Lá, um de seus filhos, enquanto os outros também se viravam, aguardava ansioso com um saco de estopa, dentro do qual seriam guardados os espetos. Dessa forma, conseguiam mistura de luxo de ótima qualidade, que depois de secá-las, durariam pelo menos uns quinze dias. Esses pelo menos tinham o que festejar mesmo que fosse por pouco tempo. Aos outros restavam as dúvidas e as esperanças.
Na certa os perdedores haveriam de sofrer nas mãos do Alfredo, ex-combatente da FEB –Força Expedicionária Brasileira na segunda grande guerra mundial. Sabemos lá o que tinha passado na Itália, já que afirmava ter combatido na conquista do Monte Castelo. Alfredo era muito temperamental. Quem sabe, talvez algum trauma de guerra.. Quem não gozava da sua simpatia era tratado como inimigo ferrenho. Três foram as obras realizadas na sua gestão: A construção do Grupo Escolar, o Prédio da Delegacia de Polícia e a canalização de água potável na “Vila”.
A caixa que armazenava a água não ficou submersa na Represa do Jaguari. Foi adaptada e transformada numa bela residência pelo atual proprietário.
Alfredo Manoel Francisco foi o segundo prefeito após a Emancipação Política Administrativa do Município. Sua gestão foi de 1959 à 1962.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Lembranças 8

Estamos há poucos meses da eleição do novo Prefeito e dos Vereadores da Câmara Municipal. A agitação política começa. Só que desta vez não foi tão tranqüila como a primeira. Alfredo Manoel Francisco era funcionário do Posto de Saúde na função de atendente. Tinha muito prestigio e foi designado por Moacir como candidato a Sucessão.
Remédios na época eram escassos. Existiam somente vacinas e analgésicos. O médico atendia somente uma vez por semana, aos sábados. Mas mesmo pela pequena quantidade de remédios, pois o Município tinha uma arrecadação de recursos financeiros irrisória, todos eram por ele distribuídos. Isso lhe dava um contato permanente com a população, mesmo sendo considerado um “estrangeiro”, pois era natural de Jacareí, onde sua família residia.
Alfredo era esperto. Tinha pouca instrução, talvez o 4.º ano do Grupo Escolar. Era muito arrogante,mas de certa forma bem eloqüente.Lançado candidato, criou um mal estar entre os companheiros de Moacir, que inclusive tinham lutado bravamente pela emancipação do município. Nage, Machado, João Caipira, Don e outros mais, não gostando e nem apoiando essa indicação, pois nem si quer foram consultados, se desligaram do partido, rompendo inclusive a amizade. Até aquela data era um grupo homogêneo.
No PSP nada havia mudado. Continuava sob o comando do Nhô Nito Vaz, ademarista roxo. É lançada então a candidatura de Mário Rozendo da Silva mais conhecido como Mário Dentista.
Filho de Igaratá, apesar de residir em Santa Isabel, gozava também de bom conceito junto a população.Era protético e atendia a população de Igaratá aos sábados. Além da confecção de próteses dentárias, executava alguns serviços como, extrações e obturações de pequeno porte.
Lembro-me bem. Obturar um dente naquela época era um flagelo. Não pela capacidade profissional, mas sim pelas condições precárias. Lembrem-se bem. Energia Elétrica só das 19 às 21 horas. O aparelho utilizado na época se constituía de um tripé. Na parte de baixo tinha uma roda, no mesmo sistema das máquinas de costuras, acionada através de um pedal. Essa roda acionava uma correia que por sua vez fazia girar uma cabo de aço flexível onde na sua extremidade se encontrava o maior instrumento de tortura da época. A famigerada “BROCA”. Esta é que ia perfurar e limpar o dente a ser obturado. Me dá até calafrios em lembrar, pois passei por essa “tortura” como tantos outros. De toda a forma valia a pena passar por esse sacrifício, pois os serviços de próteses, principalmente as dentaduras eram a sua especialidade.
Aí está mais ou menos definido o perfil dos dois candidatos.
Os antigos companheiros de Moacir passaram a prestigiar e apoiar a candidatura do Mário Dentista. O tempo começava a esquentar e as panelas a ferver!
A Justiça Eleitoral autoriza a instalação de dois serviços de alto-falantes.
O PSD que apóia a candidatura do Alfredo, instala no armazém do Zé Madeu.
O PSP que apóia o Mário Dentista, instala num casarão que se encontrava desocupado na entrada da “Vila”, onde posteriormente funcionaria o bar do Massami Oka e posteriormente do João do Bar. Como a energia elétrica boa so funcionava das l9 às 21 horas, foi estabelecido o ,seguinte: Uma semana o serviço de alto-falante do PSD funcionaria das 19 às 20 horas e o do PSP das 20 às 21 horas, alternando-se os horários na semana seguinte.
Lamentavelmente, o que se transmitia era pura baixaria. Ambos os lados se esqueciam o fator político, o que poderiam fazer em benefício da população. Só se preocupavam em ferir, denegrir e desgraçar o moral do adversário e dos seus correligionários.
Hoje muita pouca coisa mudou. Os insultos ainda persistem mesmo com as penalidades impostas pela Justiça Eleitoral.
Pois é meus amigos! Política é uma ciência! Para ser político dos bons é necessário entender muito bem da arte. Frases como já ganhei; essa já está no papo, são muito prejudiciais e catastróficas.
Alfredo, talvez com conhecimento mais profundo sobre o assunto, resolve transferir sua residência para Igaratá, com toda família. Isso lhe dava todo o tempo necessário para estar junto da população, freqüentando bares, festinhas na roça e aí, promessas e mais promessas. Constantemente freqüentava o Cartório Eleitoral, onde eram feitas as transferências , emissão de títulos, possíveis embargos, etc.
Mário já pensava diferente. Acreditava que como filho da terra e com o prestígio que gozava como dentista, não havia mais nada há fazer. A eleição estava ganha!
Enquanto isso, Alfredo não parava.
De tanta insistência de seus cabos eleitorais e dos candidatos à vereança pela sua chapa, Mário resolve fazer um grande comício. Aproveitou que a data coincidia com uma festa religiosa, se não me falha a memória, em louvor a São Benedito.
No pátio da igreja havia grande aglomeração. O palco já estava montado. Espiões do candidato adversário, tentavam assistir o comício escondidos atrás e ao lado da igreja, pois assistir junto a população era vergonhoso, podendo ocorrer desafetos entre as partes, chegando as vias de fato. As ruas estavam praticamente lotadas, pois a população da zona rural, na época era maioria absoluta, compareceu em peso.
No palanque, candidatos discursavam, um após outro, sem interrupção. Fogos de artifício espocavam no ar. De repente, chega uma notícia estarrecedora!
A patrol do DER – Departamento de Estradas de Rodagem, cedida pelo governo do Estado para prestar serviços nas estradas municipais, havia atropelado e matado uma criança de mais ou menos 7 anos de idade. Ao lado do patroleiro, encontrava-se o candidato Alfredo, que voltava dos bairros da zona rural. Eram aproximadamente 17 horas. Alfredo tinha aproveitado para fazer campanha nos bairros. Era importante sair com a máquina, principalmente para melhorar o leito das estradas.
O que era festa e comício, terminou em tragédia e balburdia.
Começa então o disque disque, empurrões e xingamentos. De um lado, correligionários defendiam o Alfredo. Do outro, instigavam a população para pegar o Alfredo, culpando-o pelo acidente. Onde já se viu? Uma máquina daquele tamanho passar na rua em dia de festa com tanta gente? Isso é provocação! Chegaram a dizer que o Alfredo era quem estava dirigindo. Alfredo teve que se esconder na casa do Sr. Jose Alves de Almeida, que era vereador e morava bem em frente ao local do acidente, só podendo sair às altas horas da noite, quando já não existia praticamente ninguém na rua. Sem iluminação, depois das 21 horas, o negócio era todo mundo se recolher.
Após essa tragédia, a bandeira do “já ganhou” foi içada às alturas pelos cabos eleitorais do Mário Dentista. Acreditavam que Alfredo tinha sido derrotado mesmo antes da eleição. (continua na Lembranças 9).

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

LEMBRANÇAS 7

O valor aprovado pela Câmara Municipal era de CR$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil cruzeiros) que deveriam ser pagos no prazo de trinta dias. A declaração de venda da usina, data de 26 de dezembro de 1956 e o único valor de CR$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros) foi efetuado em maio de 1957. (dados colhidos nos arquivos da Câmara Municipal em 1996).Dessa forma, João Wilke se achava no direito de continuar recebendo dos consumidores, as contas de energia consumidas, já que a divida não havia sido liquidada, restando o valor de CR$ 150.000,00 ( cento e cinqüenta nil cruzeiros). A forma de se calcular o consumo de energia mensalmente, era a seguinte: O Sr. Izaltino Pereira que trabalhava na usina, visitava as residências para anotar quantas lâmpadas que existiam. Lâmpadas de 100 watts era um preço; de 60 watts outro. Chuveiro e ferro elétrico, nem pensar. A usina de pouca potencia não agüentava tanto consumo de energia. As roupas eram passadas com ferros à brasa, e os banhos, tomados em bacias, ou de caneca. Havia também outro sistema. Você aquecia a água no fogão à lenha, temperava a seu gosto com água fria, colocava em um balde, no qual se instalava um chuveiro com uma alavanca para abrir ou fechar a água. Uma roldana era afixada no caibro do telhado do banheiro, e através de uma corda levantava o balde até a altura desejada. O banho tinha que ser bem rápido, pois a água ia aos poucos esfriando.Voltemos ao pagamento do restante da dívida da desapropriação da usina.O não pagamento do restante do valor contratado criou um grande desentendimento. João Wilke, sentindo-se ofendido e lesado, resolveu encaminhar uma carta agressiva à Câmara Municipal, exigindo que se marcasse uma data para o pagamento do restante da dívida. O Prefeito Moacir, não gostando dessa atitude, resolve cortar o fornecimento de energia para as residências que se localizassem nas margens da Estrada do Rio do Peixe, justificando tal atitude, que o gerador da usina não tinha capacidade para tanto consumo. Não havendo transformador, a perda de energia prejudicava os moradores da “Vila”. Acontece que a energia de péssima qualidade fornecida, pois uma lâmpada de 100 watts de potência, mal conseguia iluminar 30 watts. (antigamente se denominava “velas”). Havia também o fornecimento de energia através de um gerador movido a óleo diesel, que funcionava no horário das 19 às 21 horas. Essa energia era de melhor qualidade, pena que era fornecida só por duas horas, já que o consumo de óleo diesel era bem oneroso. Esse gerador foi doado pelo Governo do Estado de São Paulo, conforme ofício nº 104/56 datado de 10 de outubro de 1956, encaminhado pelo Prefeito à Câmara Municipal, salientando a participação do Vereador Francisco Barbosa e do Deputado Estadual Leôncio Ferraz Junior.Voltemos ao assunto. A atitude do Prefeito, foi interpretada como uma retaliação, pois os prejudicados pelo corte da energia foram: o cidadão Jaime dos Santos, os vereadores Antonio de Souza Machado e João Hildebrando Wilke, filho do João Wilke, mais conhecido como Donzinho, o ultimo morador da Estrada do Rio do Peixe até aonde a energia era fornecida.Dia 20 de agosto de 1957. Dia de reunião da Câmara Municipal. Após a leitura da carta de protesto sobre o corte da energia e o não pagamento do restante da dívida, os ânimos foram se exaltando, chegando-se as vias de fatos. Donzinho extremamente nervoso, parte para cima do Prefeito a socos e pontapés. Aí, entra a turma do deixa disso. Aos poucos os ânimos vão se acalmando. Entram num acordo. É marcada nova data de pagamento da dívida e a energia é restaurada aos moradores dos sítios que margeavam a Estrada do Rio do Peixe. Tudo volta a normalidade.Um dos últimos atos do Prefeito Moacir Prianti Chaves, foi a aprovação de um Projeto de Lei que autorizava a liberação de uma verba no valor de CR$ 20.000,00 (vinte mil cruzeiros) para a compra de medicamentos preventivos contra a “Gripe Asiática” que se alastrava pela Capital de São Paulo. As pessoas de mais idade devem se lembrar. Essa foi uma das piores gripes surgidas na época, igualando-se apenas a gripe “Espanhola”. O medo tomava conta de todos. Até na pequena “Vila”, distante da Capital oitenta e quatro quilômetros e com pouca freqüência de paulistanos.Praticamente finda-se o mandato do primeiro prefeito eleito após a Emancipação Política Administrativa do Município de Igaratá ocorrida em 30 de dezembro de 1953!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Lembranças 6

Após a posse do Prefeito Moacir Prianti Chaves, nesse dia não se pensava em nada. Igaratá estava livre para poder dirigir o seu próprio destino. Dia de grande festa!É, meus amigos. Mas todos sabem. Depois de uma grande festa, vem também uma grande ressaca.Dia 2 de janeiro de 1955. É hora de pegar no batente. O Legislativo havia se instalado na primeira sala à direita de quem entrava no casarão. À esquerda, o Executivo instalou a Tesouraria, o Setor de Tributação e a Junta Militar. Nos fundos instalou o Gabinete do Prefeito a Secretaria e o ,Setor de Contabilidade.A Lei 2.456 que emancipou o município, nas formas do § 1º do artigo 11, autorizava o Município de origem (Santa Isabel), a cobrar do novo Município ora criado, a importância de 10% do total da receita arrecadada, tendo sido estimado o valor de CR$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzeiros). Através do ofício nº 6 de 1º de fevereiro de 1955 , o Prefeito solicita autorização da Câmara Municipal para obter um empréstimo de CR$ 60.000,00 (sessenta mil cruzeiros) junto ao Banco Econômico da Bahia S/A para pagar o valor determinado na Lei 2.456, e sobrar um pouco para comprar móveis e materiais de consumo para manutenção do Executivo e do Legislativo.Não é nada fácil assumir uma Prefeitura com “caixa” zero e com contas a pagar!Somente em setembro é que Moacir pode respirar. Através do ofício nº 61 de 20 de setembro de 1955, o Prefeito comunica a Câmara o recebimento de CR$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros) do Governo Federal para ajudar na instalação da Prefeitura e da Câmara Municipal. Que situação difícil a do primeiro prefeito! Somente após nove meses da criação do Município de Igaratá é que veio a ajuda do Governo Federal!Vamos passar para outros fatos também muito interessantes.Nas pesquisas realizadas, pouco pode se apurar pela falta de documentação. Acredito que tenha se perdido ou extraviada quando da mudança da velha para a nova cidade. Alguma coisa ainda restou. Localizei a Lei nº 11 de 5 de março de 1955 que proibia construção de porteiras nas estradas municipais, podendo em caso excepcional, em requerimento deferido pelo Prefeito, com a construção de um mata-burro ao lado. A Lei nº 20 que proibia a criação e retenção de animais dentro do perímetro urbano. Lei muito difícil de ser cumprida à risca. Um caso muito peculiar, digno de se relatar, inédito no Município de Igaratá, pois jamais vi acontecer novamente, foi em abril de 1955. Através do ofício nº 27 de 26 de abril de 1955, é comunicado à Câmara Municipal a transferência do cargo ao Vice-Prefeito, por motivo de saúde. O ofício nº 29 de 2 de maio, comunica ao Presidente da Câmara a devolução do cargo ao titular.Outro caso interessante: para assumir o cargo de tesoureiro ou secretário, era necessário a apresentação de uma carta de fiança. A Lei nº 22 de 21 de maio de 1955, arbitrara os valores de CR$ 15.000,00 (quinze mil cruzeiros) para cada função a ocupar. Poderia ser em dinheiro ou depósito vinculado em caderneta de poupança. Neste caso, o Sr. Francisco Lourenço e a Dª Pedrina Ramos Lourenço, apresentaram ao Prefeito, como garantia, missiva datada de 31 de agosto de 1955, já devidamente aprovada pela Câmara Municipal, dando em garantia um imóvel que possuíam na Rua Capitão Florêncio no valor de CR$ 30.000,00 (trinta mil cruzeiros), para poderem ocupar os cargos já mencionados.O tempo passa e o mundo gira. Moacir sempre pensando em melhorar a condição de vida dos moradores da ainda carinhosamente chamada “Vila”, consegue aprovar projeto, transformado na Lei nº 9 de 6 de abril de 1956, autorizando a desapropriação da Usina de Força e Luz de propriedade do Sr. João Wilke.

Lembranças 5

Nage e Benigno tinham muita influência na capital paulistana. Enfim, todos tinham o que era mais importante: a vontade de se libertarem. O direito do povo da comunidade de dirigir o seu próprio destino!
Quando as forças se unem, quando se luta por um ideal digno de se alcançar, nada é impossível. Após um ano de luta, enfim a vitória chegou.
Finalmente, no dia 30 de dezembro de 1953, foi promulgada e sancionada a Lei nº 2.456 que devolvia ao Distrito a categoria de Município, tanto almejada pela população igarataense.
Inicia-se o ano de 1.954. Ano da mobilização geral dos políticos da Velha Igaratá. Começava a formação dos partidos políticos.
De um lado, surge o PSP- Partido Social Progressista liderado por Benedito Rodrigues de Freitas, mais conhecido pela alcunha de Nhô Nito Vaz. Do outro lado, vem o PSD -Partido Social Democrático liderado por Moacir Prianti Chaves, que se coliga com a UDN - União Democrática Nacional para tentar eleger o primeiro prefeito após vinte anos sob o domínio do Município de Santa Isabel, na categoria de Distrito.
O PSP lança para Prefeito o Sr. Benedito Rodrigues de Freitas e para vice o Sr. José Mendes de Souza, mais conhecido como Zé Vicente. A coligação PSD/UDN lança para Prefeito Moacir Prianti Chaves e para vice o Major Benigno de Alcântara. A eleição correu na maior tranqüilidade jamais vista. Não havia ainda se instalado entre os concorrentes o vírus do poder. A ânsia de derrotar o adversário a qualquer custo! Nessa disputa praticamente amigável, sagra-se vencedora a dupla lançada pela coligação PSD/UDN, ficando dessa forma assim constituídos os dois poderes que iriam a partir de 1.955, dirigir o destino do novo município: Para o Poder Executivo, Prefeito Moacir Prianti Chaves; vice, Benigno de Alcântara. Para o Poder Legislativo os vereadores, Antonio de Souza Machado, José Alves de Almeida, João Hildebrando Wilke, José Augusto Barbosa, João de Souza Ramos, Silvério Peres Filho, Francisco Barbosa, Dr. Nelson Antonio Nistal e Antonio Rodrigues Barbosa..
E agora, meus senhores e minhas senhoras? Aonde seriam instalados os dois Poderes?
Na esquina da Rua Capitão Florêncio com a Rua da Liberdade, existia um casarão construído de taipa, sendo que as paredes chegavam a ter cinqüenta centímetros de espessura que já havia servido como cadeia pública, encontrando-se totalmente abandonado. Para ser utilizado novamente, necessitava de uma grande reforma, principalmente no telhado, pois havia mais goteiras do que as próprias telhas. Naquela época, as telhas utilizadas tinham o formato de casca de tatú.
Moacir não pestanejou: Com recursos próprios, resolve restaurar o velho casarão, para a instalação dos dois poderes. Quanto ao Poder Judiciário, este continuava no Município de Santa Isabel que era e continua sendo a Comarca.
É chegado o dia! 1° de janeiro de 1.955. Dia de grande festa!
Sob aplausos da multidão que se aglomerava por todos os cantos possíveis sob um calor intenso, o Meretíssimo Juiz Eleitoral da Comarca de Santa Isabel, dá posse aos cidadãos eleitos para comporem a Câmara Municipal de Igaratá, que após esse ato assim ficou constituída a Mesa eleita para dirigir os trabalhos: Presidente, Antonio de Souza Machado; Vice, José Alves de Almeida; 1° Secretário, João Hildebrando Wilke; 2º Secretário, José Augusto Barbosa. Em seguida, compareceram à Câmara Municipal os senhores Moacir Prianti Chaves e Benigno de Alcântara, que sob grandes aplausos e ribombar de rojões, tomaram posse na qualidade de Prefeito e Vice.

Lembranças 4

Naquela época, para passar de ano tinha que estudar e muito. O “Seu” Otávio, um negro com altura de um metro e oitenta mais ou menos, pesando uns noventa quilos, não só executava a função de servente, como também tinha a incumbência de, após a chamada da presença dos alunos, com uma folha e um lápis, passava de sala em sala, para que as professora anotassem os nomes dos alunos ausentes. Depois de tudo anotado, lá saia o “Seu” Otávio na caça aos faltosos. Morasse onde morasse, podia contar que lá ia ele chegando: Ó de casa, batendo palmas, por que é que a criança não foi à escola? Se dissessem que estava doente, ele entrava para conferir. Se caso fosse fingimento, além de passar uma raspança nos pais, levava o aluno que, além de ter que participar das aulas, passava um bom tempo de castigo na sala da diretora. Seu nome completo era Otávio Antonio Silvério, que muitos da minha época devem tê-lo conhecido. Depois que voltou a morar em São Paulo, foi Rei Momo de muitos carnavais da capital paulista. Assim foi indo e o tempo passando.Amigos do meu tio Nage começaram a freqüentar o sítio, a conhecer Igaratá e gostar. Vieram: Pedro Bayrão, João Casagrande, Antonio de Souza Machado, mais conhecido como “Seu” Machado e João de Andrade, também mais conhecido como João Caipira. Infelizmente, todos já partiram desta para outra. Aos poucos, começaram a adquirir propriedades. Praticamente já estavam à beira da aposentadoria. Naquela época eram somente trinta anos de serviços prestados para se conseguir esse benefício. Machado e Pedro Bayrão, como meu tio, preferiram comprar sítios fora da “Vila”. Machado comprou um sítio no Bairro do Rio do Peixe, distante quatro quilômetros da “Vila”; Bayrão comprou uma chácara às margens do Rio Jaguari, perto da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes; Casagrande e João Caipira preferiram mais comodidade. Compraram casas na “Vila”.Com o decorrer do tempo foram se conhecendo e fazendo diversas reuniões. Umas vezes no sítio do “Velho” Nage, outras no bar do Seu Miguel, na casa do João Casagrande, enfim, em vários lugares. O que não podia faltar nessas reuniões era a cachaça Nossa Senhora do Patrocínio do alambique do Ignácio Filadelpho Fortes ou Jaguari do João Tolino. Não eram cachaças boas, mas sim ótimas prá ninguém botar defeito. Não davam ressaca de jeito nenhum! Numa dessas reuniões, ficaram conhecendo Moacir Prianti Chaves, José Alves de Almeida, Major Benigno de Alcântara e outras pessoas mais.Dentre os assuntos que conversavam a situação de ser Distrito do Município de Santa Isabel, era o que mais vinha a baila. O que poderiam fazer para mudar essa condição? Com Santa Isabel não poderiam contar. Os recursos financeiros do município eram tão poucos que mal davam para se sustentar como também não tinham interesse nenhum. Do jeito que estava é que não podia ficar.Após várias discussões, chegaram a conclusão que deveriam marchar para a capital. Somente lá o assunto poderia ser resolvido. A idéia era uma só: Haveriam de conseguir de qualquer forma a Emancipação do Município. categoria essa perdida em 21 de maio de 1934 através do Decreto nº 6.488.Começava a odisséia!Nage, Machado, Benigno e Moacir, constantemente viajavam para a capital. Nage tinha muita influência política e muitos amigos.. Além de ter sido candidato a vereador na Capital, aposentara como Diretor Regional dos Correios e Telégrafos de São Paulo. Era jornalista e cronista de vários jornais. Benigno tinha influência na área militar, pois havia se reformado com a patente de Major.

Lembranças 3

Como dizia o Ernesto, “ainda há de chegar o tempo das muié pagá pros home”.Naqueles tempos, isso jamais poderia acontecer. O homem que aceitasse essa afronta, seria ridicularizado. Só o homem tinha o direito de pagar para a mulher.Os tempos mudam. O que o Ernesto dizia, hoje é mais do que natural. Em muitas rodas de amigos, as despesas são “rachadas” , chegando em alguns casos, totalmente pagas pelas mulheres.Voltando ao comercio local, tinham também os seguintes armazéns: Do Dito Prianti, do João Ramos, do Zé Amadeu, do Seu Irineu e do Nhô Nito Vaz. Com exceção do João Ramos e do Nhô Nito Vaz, os demais pertenciam a família Prianti.De todos os armazéns, o mais completo era o do Nhô Nito. Desde agulha até gasolina ele vendia. Era o único que tinha gasolina para vender. Era transportada de Santa Isabel em tambores de 200 litros. O consumo era pouco já que os veículos, sendo o de maior quantidade eram caminhões que transportavam leite para a cooperativa de Santa Isabel. Que eu me lembre, os demais eram o Ford 1951 se não me engano de cor cinza do Mario Tolino, o Jeep Land Rover verde do Ignacinho Fortes e o Volks 1951 branco do Donzinho. Para falar bem a verdade, a gasolina estocada no armazém do Nhô Nito, era apenas para um quebra galho. Os veículos quando viajavam, principalmente para Santa Isabel, no retorno completavam o tanque, pois sabiam da dificuldade que encontrariam se o combustível acabasse em Igaratá. Comumente era mais usada pelos sitiantes para abastecer motores de picadeira de cana, de geradores de energia para carregar baterias que seriam usadas para funcionar rádios, etc.Os bares eram os do Seu Miguel, do Zé Bino e do Antonio Pinheiro. Muito tempo depois, apareceram o da Dona Geralda, do Chico Lourenço que depois passou a pertencer ao “Fritz” e o do João do Bar. Este último tinha uma mesa de “snooker” . Além do futebol e pescaria, era a única distração que tínhamos. Dois eram os alambiques; o do Ignácio Filadelfo Fortes e o do João Tolino. Amigos; aquilo sim que era cachaça da boa! Feita da cana de açúcar bem madura sem mistura alguma. Açougue era o Dito Barbosa. Normalmente passava de mão em mão, já que o consumo de carne era um boi por semana abatido no sábado de manhã. Quanto ao estudo, com exceção das salas na zona rural em que a professora administrava aulas do primeiro ao quarto ano, pois assim era denominada a elevação do grau de aprendizado, na “Vila” só tinha um Grupo Escolar com quatro salas de aulas. Diploma se “tirava” ao completar o quarto ano. O meu eu tirei em 1952, sem repetir um ano si quer. A professora era a Dona Maria Aparecida de Oliveira, a Diretora a Dona Maria Adelaide Porto e o servente Seu Otávio Antonio Silvério.

Lembranças 2

Como dito na edição anterior, meu tio conseguiu finalmente comprar a chacrinha. Aí então tínhamos aonde pernoitar, não mais sendo preciso retornar a capital no mesmo dia.Nos fundos da chacrinha passava o Ribeirão das Palmeiras que era a divisa natural de um sítio de 14 alqueires de propriedade do Sr. Harry Hart, de nacionalidade inglesa, residente e domiciliado na capital. Esse sítio só tinha uma entrada que era pelo Bairro do Rio do Peixe, bem longe da “Vila” e de difícil acesso. Meu pai e meu tio souberam que estava a venda. Como o Sr. Harri morava na capital, com ele a compra do sítio foi mais fácil. Coube para cada um a importância de R$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros) moeda corrente da época. Cada um então, ficou com 7 alqueires. Meu tio ficou com a parte que margeava o Ribeirão das Palmeiras que, após a construção de uma ponte, fundiu-se com a chacrinha.Nessa época, Igaratá era Distrito de Santa Isabel. Essa situação não agradava nem um pouco os moradores da “Velha Igaratá, que distava 24 quilômetros da sede do Município de Santa Isabel que também era sede de Comarca, e ficava em total abandono. De certa forma, talvez não houvesse interesse algum que o distrito prosperasse, podendo um dia se desmembrar, tornando-se independente. Evidentemente, a receita a receita do Município que já não era muita coisa, diminuiria muito mais.A Vila de Igaratá, incluindo a Rua da Palha, considerada um pequeno povoado que distava uns quinhentos metros , no total não tinha mais que 122 casas, incluindo-se as casas comerciais, já que na própria residência, na parte da frente se localizava o bar ou armazém, exceção o armazém do Nho Nito Vaz, que falaremos oportunamente. A zona rural tinha aproximadamente o dobro das casas da zona urbana que, na época das chuvas ficavam praticamente isoladas, já que as estradas ficavam quase que totalmente intransitáveis. Não havia conservação alguma. Só era possível locomoção a cavalo, carroça, charrete ou então de carona no caminhão que transportava o leite, pois este usava as famosas “correntes” nos pneus traseiros. Até a estrada estadual que ligava Igaratá à Santa Isabel, no Bairro do Barro Branco, onde hoje se localiza a ponte sobre a Represa do Jaguari na Rodovia D. Pedro I, era impossível a travessia de qualquer veículo motorizado, com exceção de Jipes ou tratores.Era obrigatória a “baldeação”. Um ônibus ia de Igaratá, outro vinha de Santa Isabel. Demoravam-se uns trinta minutos para superar o morro do Barro Branco. Não era nada fácil! Até o pequeno comercio da Vila se sentia prejudicado. Casas comerciais eram poucas. Brasiliano fabricava gaiolas de taquara do Reino e pão de ló. Seu filho Ernesto, era especialista em fabricar forro de taquara póca para casas, esteiras e jacás para transporte de materiais e alimentos no lombo de burros. Tudo era feito artesanalmente. Até as taquaras tinham a época certa para cortar. Somente na lua minguante e nos meses que não tem a letra “R”; maio, junho, julho e agosto. Praticamente no inverno. Se cortasse em outra época ou lua, com certeza os artesanatos iriam carunchar. Brasiliano e Ernesto já não vivem mais entre nós. Ernesto, muitos ainda o conheceram. Nos últimos anos de sua vida morou lá nas bandas da Prainha. Muito brincalhão, tinha uma risada marcante. Além d muito estridente, se tivesse instrumento para medir, ultrapassaria cem decibéis com duração de mais de quinze segundos. Havia certa frase e o Ernesto sempre que tinha oportunidade, não deixava de narrar:Antes que o mato cresça, quero ver o que a cobra come! Ainda há de chegar o tempo da mulher pagar para o homem!

Lembranças 1

Nos primórdios de 1949, foi quando a minha família conheceu a “Velha Igaratá”. Naquela época eu contava com oito anos de idade. Não sei como o meu tio, o “Velho Nage”, pseudônimo de Antonio Genaro Rodrigues descobriu aquela maravilhosa e inesquecível terrinha. Muitas coisas ainda me vêem na lembrança. Morávamos na Capital de São Paulo, na Rua Joaquim Nabuco n.º 100, no Bairro do Brás. A sua direita de quem olhava do Largo da Concórdia, a rua paralela era a Rua Dr. Almeida Lima, bem próxima da estação de trem mais conhecida na época como Estação do Norte. Foi aí! Aí é que meu tio descobriu a existência de Igaratá, porque da esquina com a Avenida Rangel Pestana partia o ônibus. Era a única empresa. Se não me falha a memória, o proprietário era o Miguel Turco, residente em Santa Isabel. O motorista era o Adamastor e o cobrador era o Dito Curruira. Dois eram os horários que partiam de São Paulo para Igaratá: as 8,00 e as 16,00 horas.Num certo domingo saímos para um passeio. Destino Igaratá. Partimos às 8,00 hs. Vou detalhar como era feito o itinerário: Ponto inicial; esquina da Rua Almeida Lima com a Avenida Rangel Pestana. Seguia pela Avenida Rangel Pestana, Celso Garcia, passando pelos Bairros da Penha, São Miguel Paulista e Monte Belo. Este último, já na Estrada Velha Rio/São Paulo. Parada obrigatória de quinze minutos para possíveis necessidades fisiológicas. O Adamastor aproveitava para fazer um cigarrinho de palha que ele apreciava muito. Seguindo seu destino, passava por Itaquaquecetuba, Arujá chegando em Santa Isabel, parada também obrigatória mas de uma hora para almoço do motorista e do cobrador. Os passageiros que desejassem, poderiam lanchar, tomar água ou refrigerante como dar umas voltas pela praça para desenferrujar as pernas, já que haviam passado três horas sentados. Santa Isabel ainda era bem pequena. O ponto de parada era bem no centro da Praça da Bandeira, ao lado do coreto.Às 11,00 hs. Partíamos para Igaratá. Entre as 12,00 e 12,15 hs. Chegávamos ao nosso destino. Igaratá! Pouco mais de quatro horas de viagem.Nossa parada: Armazém da Dona Maria Evangelista, esposa do Seu Joanico, mais conhecida como “Dona Maria da Ponte”, armazém esse localizado bem as margens do Rio Jaguari, distante da “Vila” como era carinhosamente chamada a pequena cidade, apenas um quilometro. Bem perto, talvez uns cem metros, também as margens do Jaguari, era aonde íamos lanchar. A inesquecível Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Ficava localizada numa estradinha estreita que terminava no Sítio do Dito Camilo. À tarde, regressávamos para a Capital. O ônibus saia às 16,00 hs. fazendo o mesmo trajeto inversamente. Chegávamos a Capital às 20,00 hs.Num desses passeios, meu tio Nage ficou conhecendo o Sr. João Wilke, proprietário da pequena Usina Elétrica localizada apenas trezentos metros da ponte do Rio Jaguari. Entre a usina e a ponte do Rio Jaguari onde se localizava o armazém da Dona Maria, João Wilke possuía uma chacrinha com a área de um alqueire, tendo como divisores a Usina Elétrica, Estrada de Rodagem Igaratá/Santa Isabel, Armazém da Dona Maria e nos fundos o Ribeirão das Palmeiras.Meu tio e meu pai, entusiasmados com a tranqüilidade , água e ar puros, resolveram transferir a residência para a “Velha Igaratá”. Após várias tentativas para comprar a chacrinha do João Wilke, pois Dona Mariquinha, sua esposa, sempre dificultava a transação. A cada semana o preço subia! Numa última tentativa, após discussão ferrenha entre o casal vendedor, meu tio conseguiu fechar o negócio. A compra enfim foi realizada!