terça-feira, 15 de dezembro de 2009

PIQUIRÁ

Ai que saudades que dá!

Hoje me vem na lembrança, uma das mais belas maravilhas da Velha Igaratá.
A cachoeira do Piquirá!

Após a junção dos Rios do Peixe e do Jaguari, formava-se uma grande cachoeira batizada com o nome de Piquirá.

Na realidade, não era bem uma cachoeira, já que era formada por inúmeras quedas d’água de no máximo dois metros de altura, com uma extensão aproximada de quinhentos metros.

No final da corredeira, uma grande lança de pedra invadia até a metade do leito do rio, formando logo abaixo um grande remanso.

Do lado esquerdo de quem descia a corredeira, bem em frente a esse remanso, morava o César. No final, relatarei quem era o César.

Piquirá! Poucos sabem a origem desse nome.

O fenômeno que conhecemos como Piracema, somente ocorria nessa corredeira.

Após a subida dos peixes, ocorria a desova e conseqüentemente nasciam as chamadas “piquiras”. Nome oriundo da Língua Tupi/Guarani, que significa peixe pequeno.

Essa era a época esperada, principalmente pela população mais carente.

Indefesas centenas de milhares de piquiras tentavam transpor as pequenas quedas d’água, onde se tornavam presas fáceis.

Um dos lugares mais disputados para a captura das piquiras, era chamado de Bico da Pedra.

De posse de um instrumento rudimentar, constituído de uma vara de bambu, adaptando-se a mesma uma peneira do mesmo material, aquelas peneiras que se usava para escolher feijão, a pescaria estava feita.

Numa única noite, era possível até, encher dois jacás de piquiras, que seriam transportadas no lombo de um burro, para serem comercializadas na Velha Igaratá e até em Santa Isabel.

A piquira não tinha mais do que três centímetros. Podia ser fritada para se comer na hora ou transformada em paçoca, a qual poderia ser estocada por um bom tempo.

Nessa época, quando os peixes subiam o rio para a desova, tornavam-se também presas fáceis.

César que morava no Piquirá, conforme anteriormente relatado, com muito custo sobrevivia da criação de algumas cabeças de gado, pequena roça de milho e feijão, também estava atento. Era a hora certa de construir o “Pari”.

César conhecia muito bem a corredeira do Piquirá.

Do mesmo lado onde morava, formava-se um canal paralelo a corredeira, com mais ou menos dois metros de largura, preferido pelos peixes para a subida, já que as águas, mesmo bastante agitadas, nesse canal eram mais mansas, permitindo com mais facilidade a escalada dos peixes para a procriação.

Vamos agora falar do “Pari”.

“Pari” era uma armadilha rudimentar construída com bambus e uma tela de arame, a mesma utilizada para se construir um galinheiro.

Os bambus eram colocados horizontalmente formando paredes dos dois lados do canal.

Quase no final do canal, a tela de arame era colocada deitada, num espaço de mais ou menos dois metros, permitindo dessa forma a passagem da água.

Os peixes, tentavam superar os obstáculos, e os que não conseguiam, caiam na tela e se debatendo pela falta d’água, não tinham outra saída, deslizavam pelo corredor formado pelos bambus, onde facilmente logo mais abaixo eram capturados.

Infelizmente, naquele tempo, a fiscalização, a conscientização do povo praticamente não existia.

A fiscalização deveria sim existir, não para penalizar a população, pois a maioria era carente, mas sim para orientar que esse procedimento, a pesca predatória dizimaria em pouco tempo os cardumes, transformando-se numa arma fulminante contra os próprios pescadores que assim agiam inocentemente.

Enfim, o bom mesmo é lembrar, da pujança dessa corredeira, que para quem não teve a felicidade de conhecer, pode ter uma noção, se compara-la com as famosas “Sete Quedas” que também teve o mesmo destino.

Para o desenvolvimento do nosso País, para a construção de um reservatório para a regularização do Rio Paraíba, como foi o nosso caso, ou para a construção de usinas hidroelétricas, desapareceram definitivamente da face da terra !

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