Quem já ouviu falar no Samba de Roda do Camargo ?
Dos antigos moradores da “Velha Igaratá”, duvido quem desconheça.
Pelo menos a cada três meses acontecia.
No terreiro da casa do velho Camargo, ao anoitecer, aos poucos as pessoas começavam a chegar.
Quando estavam reunidas mais ou menos umas quinze pessoas, o Samba do Camargo começava. Era normal, os participantes levarem cachaça ou vinho para animar o samba. Um pandeiro e um bumbo, naquele tempo mais conhecido como “caixa”, eram os únicos instrumentos para fazer a marcação.
Formava-se uma roda, intercalando os homens e as mulheres, e ao som do batuque da caixa e do pandeiro, começavam a dançar.
Em certo momento, um dos mais antigos sambeiros gritava: “cachoeira”! Ele ia lançar o primeiro “ponto” a ser cantado. Ai a roda de samba parava e ele começava a cantar:
“O samba vai porque que não vai, se o samba não for eu não volto mais”!
Por uns cinco minutos, em coro todo mundo cantando, repetia o “ponto lançado até que outro repentista gritava: “ Cachoeira” ! A roda parava. Ia ser lançado um novo ponto para ser cantado por todos que participavam da roda de samba.
Vamos dar um exemplo:
“No alto daquele morro tem um pé de goiabeira, o rico dorme na cama e o pobre na esteira”!
Começava então o repique da caixa, do pandeiro e todo mundo começava a dançar e cantar o novo ponto lançado. Só parava quando outro sambeiro gritava “cachoeira”!
Ai o “ponto” que tinha sido cantado umas cinco vezes ou mais, ia ser mudado.
“Eira era uma rima um pouco difícil. Não era muito fácil improvisar outro
Ponto, para substituir o que estava sendo cantado. O samba tinha que continuar na mesma rima.
Enfim, alguém conseguiu improvisar uma rima e gritou: “Cachoeira”!
“Você falou em goiabeira eu falo em bananeira, misturar rico com pobre é fazer muita besteira”!
Ai o samba continuava e o maioria dos sambeiros, iam apresentando o seu ponto para ser cantado.
Mas sempre tinha alguém que naquelas alturas, já estava meio “chumbado”, querendo dar uma de repentista, gritava. “Cachoeira”.
Começava então a entoar o “ponto” que ele tinha bolado. Não demorava muito se enrolava todo. Saía fora da rima e se mandava bem de mansinho.
Nessa hora, gozação era o que não faltava.
Mas sempre aparecia alguém mais esperto e pedia para mudar a rima, pois a que estava sendo cantada praticamente a rima “eira,” já estava esgotada.
Não havia objeção. Todo mundo concordava, pois o samba tinha que continuar. Varava noite à dentro, chegando às vezes até o dia clarear.
Ainda me lembro! As bebidas consumidas eram a cachaça do Ignácio Fortes, do João Tolino e o vinho da marca Gatinho.
Como acontece em todas as festas, quando as bebidas começam a sumir de circulação, o pessoal também começa a debandar. Aos poucos o terreiro ia ficando vazio.
Tenho certeza que, ainda tem algumas pessoas daquela época, que sente saudade do famoso “Samba do Camargo”.
Além desse “samba”, o Velho Camargo realizava as tradicionais festas juninas em louvor a Santo Antonio, São João e São Pedro.
Era escolhida a data de um dos santos que coincidisse com um sábado ou domingo, para que, numa festa só, se homenageasse os três santos.
Ao encerrar esta narrativa, quero expressar meus agradecimentos à família Camargo, que muito colaborou para o enriquecimento do folclore igarataense.
Fui morador de Igarata, por volta de 1960, cheguei a assistir este "Samba de Roda", que era comandado por Zico Camargo, muito divertido.....
ResponderExcluir