terça-feira, 15 de dezembro de 2009

PESCARIA NO PIQUIRÁ

Agora vou narrar sobre um dos poucos lazeres da Velha Igaratá.

O Gustavo Claudiano era o Coletor Estadual, o Chico Lourenço era o Tesoureiro da Prefeitura e eu era funcionário dos Correios e Telégrafos.

O nosso lazer predileto era pescar.

Certa vez como já era de costume, partimos para uma pescaria. O local escolhido era um braço de rio pertinho do Piquirá. Diziam que lá não se perdia a viagem. Bagres e traíras eram o que mais tinham.

Será que era verdade mesmo? Para se ter certeza mesmo, só indo lá conferir.

Numa tarde calorosa, lá pelas cinco da tarde, cada um com duas varas já preparadas, saímos em busca dos peixes que conforme comentavam, lá existiam e muito.

Da Velha Igaratá até o local escolhido a distancia era de mais ou menos uns quatro quilômetros. Da “Vila” até a ponte do Jaguari, a estrada era a estadual que ligava Igaratá à Santa Isabel. Após passarmos a ponte dobrávamos à esquerda, pegando a estrada municipal que ligava Igaratá à Jacareí.

Enquanto o Chico Lourenço ia assobiando, pois era o que mais gostava de fazer quando caminhava, o Gustavo e eu fazíamos planos de como preparar os cuscus e os bagres ensopados que pretendíamos fazer e saborear após a pescaria.

Há um quilômetro do local, deixávamos a estrada municipal, e pelas trilhas feitas pelo gado, enfrentávamos um sapezal com mais ou menos um metro de altura. Enfim, chegávamos ao local.

Como o braço do rio era pequeno, pois só recebia água na época das chuvas que aumentava o nível do Rio Jaguari, ficávamos pertinho um do outro, mais ou menos uns três metros de distancia.

Começava a escurecer. Era a hora certa das puxadas dos bagres e das traíras.

De repente, o Gustavo consegue tirar um bagre e o Chico Lourenço fisga uma traíra. Eu, nada!

Estou distraído, e quando olho, a vara embodocou tanto, que a sua ponta já estava dentro da água. Dou aquela fisgada! A vara quebra-se ao meio. Desesperado, consigo pegar a ponteira da vara e puxar. O Gustavo e o Chico Lourenço, com os olhos arregalados cochichavam: que cara rabudo! Esse é dos bons!

Antes fosse. Mas que desilusão!
O peixe não era nada mais nada menos que um cágado tamanho família! Nessa altura da pescaria, fiquei apenas com uma vara. A reserva já era.

Não foi necessário mais do que dez minutos para sentir outra carregada. Não preciso nem repetir. Outra vara quebrada, outro cágado!

Gustavo e o Chico Lourenço esborrachavam de tanto rir. Gustavo dizia: Varlei é o rei do peixe bolacha!

Quando o lugar fica infestado, é melhor desistir. Os peixes somem como por encanto.

Resolvemos então retornar à Vila. Estava escuro que nem breu!

Gustavo sai na frente com seu farolete, com as pilhas quase descarregadas, não iluminava quase nada.

De repente, um gemido na noite!

Cadê o Gustavo?
Estirado no chão, lá estava ele. Gustavo havia saído da trilha, e como o sapé estava muito alto, não percebeu e meteu o peito num cupim.

Gustavo não se dá por vencido. Levanta e sai na frente de novo.

Não chegou a andar mais do que cem metros e, vendo um lugar mais claro, resolve dar um pulo.

Que desastre! Gustavo cai sentado em cima de uma vaca branca!

Outro gemido na noite!

A vaca se levanta assustada, Gustavo cai para um lado, e os poucos bagres e as varas para o outro lado.

O Chico Lourenço e eu rachávamos de tanto rir.

Na caminhada de volta, após pegarmos a estrada municipal, o assunto era um só.

Peixe bolacha, cupim, vaca espantada, e gemidos do Gustavo.

Que peixe ensopado, que cuscus que nada!

Foi mais uma pescaria frustrada...

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