quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Lembranças 4

Naquela época, para passar de ano tinha que estudar e muito. O “Seu” Otávio, um negro com altura de um metro e oitenta mais ou menos, pesando uns noventa quilos, não só executava a função de servente, como também tinha a incumbência de, após a chamada da presença dos alunos, com uma folha e um lápis, passava de sala em sala, para que as professora anotassem os nomes dos alunos ausentes. Depois de tudo anotado, lá saia o “Seu” Otávio na caça aos faltosos. Morasse onde morasse, podia contar que lá ia ele chegando: Ó de casa, batendo palmas, por que é que a criança não foi à escola? Se dissessem que estava doente, ele entrava para conferir. Se caso fosse fingimento, além de passar uma raspança nos pais, levava o aluno que, além de ter que participar das aulas, passava um bom tempo de castigo na sala da diretora. Seu nome completo era Otávio Antonio Silvério, que muitos da minha época devem tê-lo conhecido. Depois que voltou a morar em São Paulo, foi Rei Momo de muitos carnavais da capital paulista. Assim foi indo e o tempo passando.Amigos do meu tio Nage começaram a freqüentar o sítio, a conhecer Igaratá e gostar. Vieram: Pedro Bayrão, João Casagrande, Antonio de Souza Machado, mais conhecido como “Seu” Machado e João de Andrade, também mais conhecido como João Caipira. Infelizmente, todos já partiram desta para outra. Aos poucos, começaram a adquirir propriedades. Praticamente já estavam à beira da aposentadoria. Naquela época eram somente trinta anos de serviços prestados para se conseguir esse benefício. Machado e Pedro Bayrão, como meu tio, preferiram comprar sítios fora da “Vila”. Machado comprou um sítio no Bairro do Rio do Peixe, distante quatro quilômetros da “Vila”; Bayrão comprou uma chácara às margens do Rio Jaguari, perto da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes; Casagrande e João Caipira preferiram mais comodidade. Compraram casas na “Vila”.Com o decorrer do tempo foram se conhecendo e fazendo diversas reuniões. Umas vezes no sítio do “Velho” Nage, outras no bar do Seu Miguel, na casa do João Casagrande, enfim, em vários lugares. O que não podia faltar nessas reuniões era a cachaça Nossa Senhora do Patrocínio do alambique do Ignácio Filadelpho Fortes ou Jaguari do João Tolino. Não eram cachaças boas, mas sim ótimas prá ninguém botar defeito. Não davam ressaca de jeito nenhum! Numa dessas reuniões, ficaram conhecendo Moacir Prianti Chaves, José Alves de Almeida, Major Benigno de Alcântara e outras pessoas mais.Dentre os assuntos que conversavam a situação de ser Distrito do Município de Santa Isabel, era o que mais vinha a baila. O que poderiam fazer para mudar essa condição? Com Santa Isabel não poderiam contar. Os recursos financeiros do município eram tão poucos que mal davam para se sustentar como também não tinham interesse nenhum. Do jeito que estava é que não podia ficar.Após várias discussões, chegaram a conclusão que deveriam marchar para a capital. Somente lá o assunto poderia ser resolvido. A idéia era uma só: Haveriam de conseguir de qualquer forma a Emancipação do Município. categoria essa perdida em 21 de maio de 1934 através do Decreto nº 6.488.Começava a odisséia!Nage, Machado, Benigno e Moacir, constantemente viajavam para a capital. Nage tinha muita influência política e muitos amigos.. Além de ter sido candidato a vereador na Capital, aposentara como Diretor Regional dos Correios e Telégrafos de São Paulo. Era jornalista e cronista de vários jornais. Benigno tinha influência na área militar, pois havia se reformado com a patente de Major.

3 comentários:

  1. LEMBRO-ME DO SEU OTÁVIO (MAIS OU MENOS A UNS 27 ANOS PASSADOS)QUANDO EM UMA VISITA NA CASA DE MINHA MÃE, ELE VEIO VISITAR MEUS AVÓS (DONA GERTRUDES E JOÃO RAMOS).
    LEMBRO-ME QUE ELE VEIO COM UM CARRO COM O EMBLEMA DA REDE GLOBO.
    ANTIGAMENTE SERVENTE DAS ESCOLAS ERAM RESPEITADOS COMO OU MAIS QUE PROFESSORES, HOJE PROFESSORES E DIRETORES APANHAM DOS ALUNOS.
    ENY

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  2. Eu estudei no grupo escolar da Igarata, velha onde o Sr. Otavio era o servente, realmente ele impunha respeito, mas os professores tambem eram otimos, tive aula com a Dona Eunice, Dona Leonina, Dona Marcelina, Dona Eneida. Lembro me que antes de adentrar a sala de aulas, perfilávamos e cantavamos uma canção geralmente do folclore brasileiro. Foi aí que aprendi a cançao "Saudades de Igarata", linda, considerada o hino de Igrata, composta por Petronilha de Souza, mãe de Mauricio de Souza, que foi de Igarata.

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  3. Saudades de Igaratá (considerada Hino de Igaratá)- autoria de Petronilha de Souza;

    Quanta saudade que sinto
    Do recanto onde eu nasci
    Das cachoeiras cantantes
    Que mais linda ainda não vi.

    Das suas matas seus campos
    Dos seus belos coqueirais
    Das suas folhas em leques
    A merce dos vendavais

    Eu canto a minha terra
    Pedacinho do Brasil
    Onde tudo é tão bonito
    Com seu céu azul de anil

    Quando amanhece
    As aves de lá
    Gorgeiam saudando
    a minha Igaratá
    La ra ra ra ra...... La ra ra ra ra!!!!!

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