segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O SAMBA DO CAMARGO


Quem já ouviu falar no Samba de Roda do Camargo ?

Dos antigos moradores da “Velha Igaratá”, duvido quem desconheça.

Pelo menos a cada três meses acontecia.

No terreiro da casa do velho Camargo, ao anoitecer, aos poucos as pessoas começavam a chegar.

Quando estavam reunidas mais ou menos umas quinze pessoas, o Samba do Camargo começava. Era normal, os participantes levarem cachaça ou vinho para animar o samba. Um pandeiro e um bumbo, naquele tempo mais conhecido como “caixa”, eram os únicos instrumentos para fazer a marcação.

Formava-se uma roda, intercalando os homens e as mulheres, e ao som do batuque da caixa e do pandeiro, começavam a dançar.

Em certo momento, um dos mais antigos sambeiros gritava: “cachoeira”! Ele ia lançar o primeiro “ponto” a ser cantado. Ai a roda de samba parava e ele começava a cantar:

“O samba vai porque que não vai, se o samba não for eu não volto mais”!

Por uns cinco minutos, em coro todo mundo cantando, repetia o “ponto lançado até que outro repentista gritava: “ Cachoeira” ! A roda parava. Ia ser lançado um novo ponto para ser cantado por todos que participavam da roda de samba.

Vamos dar um exemplo:

“No alto daquele morro tem um pé de goiabeira, o rico dorme na cama e o pobre na esteira”!

Começava então o repique da caixa, do pandeiro e todo mundo começava a dançar e cantar o novo ponto lançado. Só parava quando outro sambeiro gritava “cachoeira”!

Ai o “ponto” que tinha sido cantado umas cinco vezes ou mais, ia ser mudado.

“Eira era uma rima um pouco difícil. Não era muito fácil improvisar outro
Ponto, para substituir o que estava sendo cantado. O samba tinha que continuar na mesma rima.

Enfim, alguém conseguiu improvisar uma rima e gritou: “Cachoeira”!

“Você falou em goiabeira eu falo em bananeira, misturar rico com pobre é fazer muita besteira”!

Ai o samba continuava e o maioria dos sambeiros, iam apresentando o seu ponto para ser cantado.

Mas sempre tinha alguém que naquelas alturas, já estava meio “chumbado”, querendo dar uma de repentista, gritava. “Cachoeira”.

Começava então a entoar o “ponto” que ele tinha bolado. Não demorava muito se enrolava todo. Saía fora da rima e se mandava bem de mansinho.

Nessa hora, gozação era o que não faltava.

Mas sempre aparecia alguém mais esperto e pedia para mudar a rima, pois a que estava sendo cantada praticamente a rima “eira,” já estava esgotada.

Não havia objeção. Todo mundo concordava, pois o samba tinha que continuar. Varava noite à dentro, chegando às vezes até o dia clarear.

Ainda me lembro! As bebidas consumidas eram a cachaça do Ignácio Fortes, do João Tolino e o vinho da marca Gatinho.

Como acontece em todas as festas, quando as bebidas começam a sumir de circulação, o pessoal também começa a debandar. Aos poucos o terreiro ia ficando vazio.

Tenho certeza que, ainda tem algumas pessoas daquela época, que sente saudade do famoso “Samba do Camargo”.

Além desse “samba”, o Velho Camargo realizava as tradicionais festas juninas em louvor a Santo Antonio, São João e São Pedro.

Era escolhida a data de um dos santos que coincidisse com um sábado ou domingo, para que, numa festa só, se homenageasse os três santos.

Ao encerrar esta narrativa, quero expressar meus agradecimentos à família Camargo, que muito colaborou para o enriquecimento do folclore igarataense.

domingo, 20 de dezembro de 2009

CARNAVAL DE RUA - VELHA E NOVA IGARATÁ


Agora vou relatar para vocês sobre dois carnavais. Um realizado na Velha Igaratá e outro na Nova Igaratá.

No meu tempo de jovem, lá pelos anos de 1960, o carnaval na Velha Igaratá era realizado da seguinte forma:

Começava no sábado na parte da tarde, já que naquela época a maioria das pessoas trabalhavam até às dezessete horas.

Era tradicional a saída do “BOI” pela rua principal.

O “BOI” era constituído de um jacá de taquara com um metro e meio de comprimento por oitenta centímetros de largura, com uma cavidade no meio.

Para completar a estrutura do “BOI”, na parte da frente do jacá, era colocada uma carcaça da cabeça de um boi, totalmente descarnada e pintada, permanecendo apenas os chifres.
Na cavidade existente no centro do jacá, o folião se ajustava para comandar, sendo colocadas duas cordas presas no “BOI” como se fossem suspensórios, para que o folião pudesse suportar o peso e ter mais agilidade.

Um grande pano cobria totalmente o jacá. A roupagem e a máscara usada pelo folião, o tornava totalmente incógnito. Somente as pessoas que participavam da montagem é que sabiam quem era a pessoa que comandava o “BOI”.

Poucas pessoas se aventuravam a sair pela rua principal. O “BOI” pegava pra valer.

Quando você menos esperava, lá estava ele saindo de um beco ou de uma casa velha
abandonada, sempre em disparada atacando todos que pela frente encontrava.

Só as mulheres e crianças eram respeitadas.

Quem mais se destacava no comando do “BOI”, era o Tião do Orioste, pela sua índole extrovertida. Ele se realizava quando conseguia chifrar e derrubar alguém.

Pouco se importava se machucava ou não, apesar de nunca ter acontecido algum caso grave. O que mais valia era o susto.

A importância de ficar incógnito, era para se livrar de ir em “cana”, caso a polícia aparecesse, o que era muito difícil. Mas se caso acontecesse, tanto o folião e o “BOI” se evaporavam.

A noite começava o carnaval de salão.

Lá pelas oito horas, o Chico Lourenço, com o inseparável cavaquinho, o Zé Igaratá com seu violão e uma gaita de boca adaptada ao mesmo, o João do Orioste com o seu famoso bandolim, o Zé Camargo com o surdo para fazer a marcação, o Abrãozinho no pandeiro e eu no repique, nos reuníamos no único salão que existia. Não tinha mais do que cinco metros de largura por quinze de comprimento.

Era o salão de snooker do João do Bar.

A única mesa que existia, já estava encostada num canto e sobre ela era armado um pequeno tablado, onde a nossa pequena “orquestra” se ajeitava.

Era inicio do carnaval de salão.

Nesses dias, a energia boa fornecida pelo gerador diesel, ia até à meia noite. Daí em diante, a folia continuava sob os lampiões Aladim colocados estrategicamente.

Ainda me lembro.
Na terça-feira “gorda”, o baile terminava pontualmente à meia noite. Após esse horário era considerado sacrilégio, já que estava iniciando a quarta-feira de cinzas. Havia um respeito muito grande pelos ensinamentos da igreja.

O baile parava, os instrumentos eram desafinados, guardados e só voltavam à baila quarenta dias após. Só no sábado de aleluia.

Na Nova Igaratá, somente à partir de 1988 é que se começou a organizar o carnaval de rua. Até então, só o Igaratá Social Clube é que comandava. Existia apenas carnaval de salão.

Certo dia, batendo papo com o Mirão e a Josete, começamos a bolar como se conseguiria pelo menos, colocar um bloco na rua.

Muitas pessoas não tinham condições de arcar com o preço do ingresso para entrar no clube para poder brincar no reinado de Momo. Esta seria uma forma de se poder agradar a todos.

O tempo era escasso. Faltavam apenas dois meses para inicio do carnaval.

Quem mais entendia da arte era o Mirão, folião nato. Este ficou incumbido de organizar a bateria e as alas que iam compor o bloco.

A Josete ficou com a tarefa de convidar a moçada, preparar as fantasias e alegorias.

Eu fiquei como “Coringa”! Ajudar em tudo que precisassem
.
A animação começou.
Mirão recrutou todos os jovens que soubesse pelo menos um pouco de batuque. O importante era ter ritmo e cadência.

Aos sábados nos juntávamos na praça principal, e lá pelas vinte horas começava o ensaio.

Mirão, muito dedicado, mas também de personalidade forte, não tolerava a menor falha. Ficava de olho em todos os componentes da bateria. Um pequeno desvio era o bastante. O apito tocava e tudo parava. Começava a discussão.

Ai era a hora do deixa disso! Calma! Tivemos tanto trabalho, não podemos desistir agora!

O que de fato acontecia, era que os nossos jovens, não acostumados a receber ordens, não entendiam. A disciplina tinha que ser rigorosa. O Mestre da Bateria era obrigado a ser exigente. A glória ou o fracasso eram de sua inteira responsabilidade.
No fim tudo deu certo. A Bateria ficou tinindo!

A Josete, com a ajuda da Siluca, Caetana, Nena, Mara, Dalila e outras mais, conseguiram em tempo hábil confeccionar as alegorias e fantasias que comporiam as alas do Bloco. Baianas e Havaianas predominavam.

Faltavam apenas vinte dias para o Carnaval, quando o Mirão me chamou num canto e disse: Varlei, praticamente está tudo dentro dos conformes, mas ironicamente falou: está faltando o fundamental, meu irmão!

Não me contendo, retruquei: Não te entendo! Se está tudo em ordem, como falta o fundamental ?

Ai ele me respondeu: Você já viu uma Escola de Samba ou um Bloco carnavalesco desfilar sem um samba enredo?

Se vira “peão”, você não é quadrado!

Meu Deus! Não dá tempo para mais nada. Como divulgar em tempo hábil o tema para que os compositores apresentassem seus sambas? Como fazer o julgamento e a escolha do melhor samba enredo?

A bomba estourou na minha mão!

Jamais tive a pretensão de ser compositor e “puxador” de samba.

No reduto do meu quarto, de posse de um violão e um gravador, comecei a rabiscar e compor o seguinte samba:

Nome do Samba: CANOA ALTA.
Tema: RELEMBRAR O PASSADO E FALAR DO PRESENTE.
Todos os dias, ao anoitecer, eu com a minha Belina, encostava de frente a padaria e em outros estabelecimentos comercias, abria as portas, colocava a fita para tocar e distribuía a letra para que o pessoal pudesse apreender e acompanhar.

Durante o desfile o povo emocionado, aplaudia com muita alegria.

Talvez a emoção de ser o primeiro carnaval de rua.

Pois é, caros leitores. Não sei se foi aquele carnaval de rua esperado.

De uma coisa eu sei:

Plantamos a primeira semente!

É pena que o Blog não aceita gravar a música do samba enredo. Mas pelo menos ficam conhecendo a letra.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

CANOA ALTA

Enredo do samba do 1º carnaval de rua -1988
Tema: Relembrar o passado e falar do presente
Letra e Música - Varlei Antonio Péres

Chegou a hora
nossa escola vai sair
Canoa Alta (bis)
pelas ruas vai surgir.

Canoa Alta
muito alegre navegando
e pelas ruas
o povo todo desfilando.

O passado saudoso
vai ficando bem distante
as palmeiras em leque
continuam verdejantes.

Hoje tudo é alegria
samba suor e fantasia
vamos todos desfilar

das tristezas esquecer
pois o leite derramado
não adianta chorar.

Chegou a hora... (bis)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

PIQUIRÁ

Ai que saudades que dá!

Hoje me vem na lembrança, uma das mais belas maravilhas da Velha Igaratá.
A cachoeira do Piquirá!

Após a junção dos Rios do Peixe e do Jaguari, formava-se uma grande cachoeira batizada com o nome de Piquirá.

Na realidade, não era bem uma cachoeira, já que era formada por inúmeras quedas d’água de no máximo dois metros de altura, com uma extensão aproximada de quinhentos metros.

No final da corredeira, uma grande lança de pedra invadia até a metade do leito do rio, formando logo abaixo um grande remanso.

Do lado esquerdo de quem descia a corredeira, bem em frente a esse remanso, morava o César. No final, relatarei quem era o César.

Piquirá! Poucos sabem a origem desse nome.

O fenômeno que conhecemos como Piracema, somente ocorria nessa corredeira.

Após a subida dos peixes, ocorria a desova e conseqüentemente nasciam as chamadas “piquiras”. Nome oriundo da Língua Tupi/Guarani, que significa peixe pequeno.

Essa era a época esperada, principalmente pela população mais carente.

Indefesas centenas de milhares de piquiras tentavam transpor as pequenas quedas d’água, onde se tornavam presas fáceis.

Um dos lugares mais disputados para a captura das piquiras, era chamado de Bico da Pedra.

De posse de um instrumento rudimentar, constituído de uma vara de bambu, adaptando-se a mesma uma peneira do mesmo material, aquelas peneiras que se usava para escolher feijão, a pescaria estava feita.

Numa única noite, era possível até, encher dois jacás de piquiras, que seriam transportadas no lombo de um burro, para serem comercializadas na Velha Igaratá e até em Santa Isabel.

A piquira não tinha mais do que três centímetros. Podia ser fritada para se comer na hora ou transformada em paçoca, a qual poderia ser estocada por um bom tempo.

Nessa época, quando os peixes subiam o rio para a desova, tornavam-se também presas fáceis.

César que morava no Piquirá, conforme anteriormente relatado, com muito custo sobrevivia da criação de algumas cabeças de gado, pequena roça de milho e feijão, também estava atento. Era a hora certa de construir o “Pari”.

César conhecia muito bem a corredeira do Piquirá.

Do mesmo lado onde morava, formava-se um canal paralelo a corredeira, com mais ou menos dois metros de largura, preferido pelos peixes para a subida, já que as águas, mesmo bastante agitadas, nesse canal eram mais mansas, permitindo com mais facilidade a escalada dos peixes para a procriação.

Vamos agora falar do “Pari”.

“Pari” era uma armadilha rudimentar construída com bambus e uma tela de arame, a mesma utilizada para se construir um galinheiro.

Os bambus eram colocados horizontalmente formando paredes dos dois lados do canal.

Quase no final do canal, a tela de arame era colocada deitada, num espaço de mais ou menos dois metros, permitindo dessa forma a passagem da água.

Os peixes, tentavam superar os obstáculos, e os que não conseguiam, caiam na tela e se debatendo pela falta d’água, não tinham outra saída, deslizavam pelo corredor formado pelos bambus, onde facilmente logo mais abaixo eram capturados.

Infelizmente, naquele tempo, a fiscalização, a conscientização do povo praticamente não existia.

A fiscalização deveria sim existir, não para penalizar a população, pois a maioria era carente, mas sim para orientar que esse procedimento, a pesca predatória dizimaria em pouco tempo os cardumes, transformando-se numa arma fulminante contra os próprios pescadores que assim agiam inocentemente.

Enfim, o bom mesmo é lembrar, da pujança dessa corredeira, que para quem não teve a felicidade de conhecer, pode ter uma noção, se compara-la com as famosas “Sete Quedas” que também teve o mesmo destino.

Para o desenvolvimento do nosso País, para a construção de um reservatório para a regularização do Rio Paraíba, como foi o nosso caso, ou para a construção de usinas hidroelétricas, desapareceram definitivamente da face da terra !

PESCARIA NO PIQUIRÁ

Agora vou narrar sobre um dos poucos lazeres da Velha Igaratá.

O Gustavo Claudiano era o Coletor Estadual, o Chico Lourenço era o Tesoureiro da Prefeitura e eu era funcionário dos Correios e Telégrafos.

O nosso lazer predileto era pescar.

Certa vez como já era de costume, partimos para uma pescaria. O local escolhido era um braço de rio pertinho do Piquirá. Diziam que lá não se perdia a viagem. Bagres e traíras eram o que mais tinham.

Será que era verdade mesmo? Para se ter certeza mesmo, só indo lá conferir.

Numa tarde calorosa, lá pelas cinco da tarde, cada um com duas varas já preparadas, saímos em busca dos peixes que conforme comentavam, lá existiam e muito.

Da Velha Igaratá até o local escolhido a distancia era de mais ou menos uns quatro quilômetros. Da “Vila” até a ponte do Jaguari, a estrada era a estadual que ligava Igaratá à Santa Isabel. Após passarmos a ponte dobrávamos à esquerda, pegando a estrada municipal que ligava Igaratá à Jacareí.

Enquanto o Chico Lourenço ia assobiando, pois era o que mais gostava de fazer quando caminhava, o Gustavo e eu fazíamos planos de como preparar os cuscus e os bagres ensopados que pretendíamos fazer e saborear após a pescaria.

Há um quilômetro do local, deixávamos a estrada municipal, e pelas trilhas feitas pelo gado, enfrentávamos um sapezal com mais ou menos um metro de altura. Enfim, chegávamos ao local.

Como o braço do rio era pequeno, pois só recebia água na época das chuvas que aumentava o nível do Rio Jaguari, ficávamos pertinho um do outro, mais ou menos uns três metros de distancia.

Começava a escurecer. Era a hora certa das puxadas dos bagres e das traíras.

De repente, o Gustavo consegue tirar um bagre e o Chico Lourenço fisga uma traíra. Eu, nada!

Estou distraído, e quando olho, a vara embodocou tanto, que a sua ponta já estava dentro da água. Dou aquela fisgada! A vara quebra-se ao meio. Desesperado, consigo pegar a ponteira da vara e puxar. O Gustavo e o Chico Lourenço, com os olhos arregalados cochichavam: que cara rabudo! Esse é dos bons!

Antes fosse. Mas que desilusão!
O peixe não era nada mais nada menos que um cágado tamanho família! Nessa altura da pescaria, fiquei apenas com uma vara. A reserva já era.

Não foi necessário mais do que dez minutos para sentir outra carregada. Não preciso nem repetir. Outra vara quebrada, outro cágado!

Gustavo e o Chico Lourenço esborrachavam de tanto rir. Gustavo dizia: Varlei é o rei do peixe bolacha!

Quando o lugar fica infestado, é melhor desistir. Os peixes somem como por encanto.

Resolvemos então retornar à Vila. Estava escuro que nem breu!

Gustavo sai na frente com seu farolete, com as pilhas quase descarregadas, não iluminava quase nada.

De repente, um gemido na noite!

Cadê o Gustavo?
Estirado no chão, lá estava ele. Gustavo havia saído da trilha, e como o sapé estava muito alto, não percebeu e meteu o peito num cupim.

Gustavo não se dá por vencido. Levanta e sai na frente de novo.

Não chegou a andar mais do que cem metros e, vendo um lugar mais claro, resolve dar um pulo.

Que desastre! Gustavo cai sentado em cima de uma vaca branca!

Outro gemido na noite!

A vaca se levanta assustada, Gustavo cai para um lado, e os poucos bagres e as varas para o outro lado.

O Chico Lourenço e eu rachávamos de tanto rir.

Na caminhada de volta, após pegarmos a estrada municipal, o assunto era um só.

Peixe bolacha, cupim, vaca espantada, e gemidos do Gustavo.

Que peixe ensopado, que cuscus que nada!

Foi mais uma pescaria frustrada...

ORIGEM DO MUNICÍPIO DE IGARATÁ

O Município de Igaratá originou-se da antiga Capela de Nossa Senhora do Patrocínio em território de Santa Isabel.

Elevado à Freguesia com o mesmo nome em 1864 e, incorporado ao Município de São José do Paraitinga, ficou pertencendo ao termo de Jacareí e São José.

Elevado a Vila com o mesmo nome em 1873, continuou pertencendo ao termo de Jacareí e São José.

Passou a pertencer a Comarca de Santa Isabel pela Lei nº 80 de 25 de agosto de 1892.
A Lei nº 1.042 de 22 de dezembro de 1906, mudou o nome de Patrocínio de Santa Isabel para Igaratá.

O nome Igaratá é originário da Língua Tupi/Guarani, que significa “CANOA ALTA” (IGARA-TÁ).

Reconduzido a condição de Distrito de Paz pelo Decreto nº 6.448 de 21 de maio de 1934, foi anexado ao Município de Santa Isabel.

O Município foi restabelecido pela Lei nº 2.456 de 30 de dezembro de 1953, publicada no Diário Oficial do Estado em 1º de janeiro de 1954.

Com a construção da barragem, no dia 5 de dezembro de 1969 as comportas foram baixadas, iniciando o represamento do Rio Jaguari e a formação do reservatório com o mesmo nome.

Esta foi a data imposta pela CESP para a desocupação das áreas a serem inundadas, inclusive a sede antiga do Município, carinhosamente chamada de “Vila”.

Através da Lei nº 317 de 14 de dezembro de 1971, na gestão do então Prefeito José Pinto da Cunha, foi instituída a data de 5 de dezembro de 1969, a data de fundação da nova cidade.

A Lei nº 355 de 6 de novembro de 1973, na gestão do Prefeito José Afonso Barbosa, revogou em todos os termos a Lei nº 317/73.

Conforme pesquisas, tomou-se conhecimento de que cada Município somente poderia instituir quatro feriados e estes já estavam definidos por outras leis.
Este foi o motivo alegado para a revogação da Lei 355/71.

Posição geográfica:

A posição geográfica desta cidade está localizada da seguinte forma:
Longitude: 46º 09’ 19”;
Latitude : 23º 12’ 24”.
Altitude: Pátio da Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio: 773,00 m acima do nível do mar.

Área do Município de Igaratá: 301 Km2.
Limites:

Igaratá limita-se com São José dos Campos, Jacareí, Santa Isabel, Nazaré Paulista Piracaia e Joanòpolis. ( o limite com o município de Joanópolis é de apenas 100 metros de extensão).

Feriados Municipais:
Fixos:
30 de dezembro – Comemoração da Emancipação Política Administrativa do Município;
05 de dezembro – Comemoração da Fundação da Nova sede do município.

Móveis:
Corpus Christi;
Sexta-Feira Sanra.
Cabe também lembrar que no dia 26 de novembro de 2004, a Lei nº 1.191 instituiu novamente a data de 5 de dezembro como a data de fundação da nova sede do município, revogando a lei que instituía a data de 13 de julho em comemoração a Nossa Senhora do Patrocínio. ( as festas em homenagem à padroeira são realizadas tradicionalmente no mês de novembro).

Caros leitores.
Aí vocês tiveram um breve relato da origem do Município de Igaratá como também sobre alguns dados importantes.

As pessoas que não foram nascidas neste Município, de alguma forma tomaram conhecimento da existência deste pedacinho do céu e para cá vieram para ajudar no crescimento e na prosperidade desta comunidade.

Eu também sou uma dessas pessoas e, a partir de agora, vou narrar como cheguei na “Velha Igaratá” e sobre tudo que pude guardar na memória durante os 60 anos dedicados ao Município de Igaratá.
Vamos viajar ao passado!
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A LENDA DO POÇO DO OURO

Como surgiu esse nome?
O Rio do Peixe, a uns duzentos metros antes de desaguar no Rio Jaguari, tinha uma bela cachoeira com a altura aproximada de cinco metros.

Após a queda d’água, formava-se um grande lago que ia afunilando-se até voltar ao leito natural do rio, onde logo abaixo desaguava no Rio Jaguari, onde começava a formar a corredeira do Piquirá.

Esse grande lago foi batizado com o nome de “Poço do Ouro”.

Consta a lenda, que na época da exploração das jazidas de ouro localizadas nas Minas Gerais, alguns feitores estavam desgostosos com aquela quantidade de ouro que era extraída e levada aos portos para serem embarcadas e transportadas para as terras lusitanas.

Certa feita, contando com o apoio de alguns escravos, resolveram se apoderar de parte desse ouro, pois como feitores, não teriam chance alguma de enriquecerem. Passariam o resto da vida tomando conta dos escravos e das extrações do ouro.

As altas horas da noite, após arriarem alguns burros e colocarem nas cangalhas alguns pilões de ouro, começaram a odisséia.

Vários eram os caminhos que levavam aos portos. Um deles passava justamente pela aldeia, que na época chamava-se Capela de Nossa Senhora do Patrocínio, antiga sede do município.
Esse foi o caminho escolhido.

Ao amanhecer do dia, os feitores, aliados à Coroa Portuguesa, descobriram a trama, pela falta de vários burros, escravos, feitores e principalmente pelo sumiço de vários pilões de ouro. Esse era o nome dado, pois o ouro ao ser forjado, tomava a aparência de um pilão.

Arriaram os cavalos restantes e começou então a perseguição aos vilões que haviam se apoderado de tamanha riqueza.

A tropa que transportava o ouro roubado seguia mais lentamente, pois os burros carregados de tanto peso, precisavam sempre parar para se alimentarem e descansarem.

Quando estavam próximos desse grande lago, uma sentinela que estava no local mais alto, enquanto a caravana se alimentava e descansava, avistou ao longe a tropa que vinha em perseguição dos fugitivos, com a finalidade de recuperar o ouro roubado e punir com severidade os ladrões ambiciosos, talvez com a própria morte.

Os feitores e os escravos fugitivos, vendo que tudo estava perdido, pois não teriam como escapar, já que os animais, além de estarem carregados e também muito cansados, resolveram então se livrar do ouro roubado.

Não querendo que o ouro fosse recuperado, jogaram todos os pilões nesse grande lago e se embrenharam pela mata nativa existente na época, escapando da tropa que os perseguiam.
Muito tempo passou e ninguém praticamente se lembrava ou falava dessa bravura que teria ocorrido.

Mas como é comum, sempre existe as famosas rodinhas de bate-papo, e um dos escravos mais antigo, narrou a existência desse acontecido.

Um fazendeiro muito poderoso da época tendo tomado conhecimento desse fato, resolveu elucidar o caso e tentar resgatar essa preciosidade que se encontrava no fundo desse lago, conforme narrado pelo escravo.

Juntou algumas parelhas de bois, vários escravos e capitães do mato, muitas correntes e saíram a procura do famoso poço que tanto era falado.

Ao localizarem o lago, começou então a procura pelos famosos pilões de ouro.

Dias e mais dias foram se passando e nada de conseguirem resgatar um pilão si quer. Já estavam desanimados e, a provisão de alimentos já estava chegando ao fim. Não poderiam ficar se alimentando apenas de caças, como capivaras, pacas e tatus que na época eram abundantes.

O fazendeiro desesperado, já não sabendo mais o que fazer, ajoelhou-se e prometeu que, se ele conseguisse resgatar pelo menos um pilão de ouro, daria metade à Santa.

Outras tentativas foram feitas, até que a corrente enrosca em algo no fundo do poço. O que seria? Algum pedaço de pau? Alguma pedra? O pilão de ouro?

As parelhas de bois começaram a puxar a corrente que aos poucos vai saindo da água.

De repente, começa a surgir um pilão de ouro, que com a luz do sol, brilhava tanto, chegando a ofuscar a visão de todos que estava à margem do poço.

O fazendeiro, estonteado com tanta riqueza, ficando fora de si, começou a gritar: Por que dar metade à Santa? Santo não precisa de ouro! Esse ouro é todo meu!

A corrente que podia suportar até o peso de um carro de bois, tem um ele estourado e o pilão volta ao fundo do lago.

Com o estouro da corrente, o fazendeiro, os capitães do mato, os escravos e as parelhas de bois que estavam à beira do poço, foram atingidos em cheio e morreram na hora. Os que estavam mais longe conseguiram se salvar e fugiram desesperados.

Pois é caros leitores, a ambição e o egoísmo são o que mais castigam o ser humano.

Nunca mais ninguém tentou recuperar os lendários pilões de ouro.

Hoje repousam num lago muito maior do que o “Poço do Ouro”!
A majestosa Represa do Jaguari!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Rua Direita - Principal rua da velha Igaratá


Rua Direita - Principal rua da velha Igaratá