quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

CINEMA NA VELHA IGARATÁ

Você sabia que na “Velha” Igaratá por um certo tempo chegou a ter cinema?

Pesquisas efetuadas com pessoas mais antigas, foi lembrado que o cinema pioneiro da “Velha” Igaratá, foi instalado num antigo prédio na Estrada Estadual que ligava Igaratá à Santa Isabel, perto da Rua da Palha, distante uns quinhentos metros da cidadezinha, prédio esse denominado na época de “máquina de arroz” que havia sido desativada lá pelos anos de 1947/1948.

Fiquei sabendo também, que além do filme ser exibido em preto e branco, era mudo. Seu proprietário era o Sr. Jorge Simão que trazia filmes da capital, junto com o senhor Benedito Rodrigues de Freitas, mais conhecido como “Nhô Nito Vaz”.

Como não se tem mais registros a respeito, vamos falar do cinema que eu conheci, como também participei nas projeções dominicais.

À cerca de mais ou menos vinte e um anos. ao sair da Prefeitura e passar pela Banca de Jornais, deparei com o saudoso Padre João Orlando da Paróquia de Santa Isabel, que estava a minha procura.

Disse-me, que no final daquele mês, haveria festa na sua Paróquia, e ele ficou incumbido de contratar uns três conjuntos, hoje mais comumente chamados de “Bandas”, para abrilhantar os festejos.

Pediu-me para entrar em contato com o João do Orioste que atualmente reside na cidade de São José dos Campos, e ver da possibilidade do seu conjunto “VIBRAÇÕES” fazer pelo menos uma apresentação na festa que ia ser realizada. Cabe salientar que o nome do conjunto foi em homenagem ao saudoso Jacob do Bandolim.

Como o Padre João Orlando, nos idos de 60, também era vigário da nossa Paróquia, pois acumulava as duas: Santa Isabel e Igaratá, ainda guardava na lembrança muitos jovens daquela época, outros assuntos vieram à baila.

O principal assunto, foi a respeito do cinema improvisado numa das salas da parte mais nova da Igreja da Velha Igaratá.

Deixem-me explicar, por que parte mais nova:
A frente da Igreja, onde eram celebradas as missas e casamentos, havia sido construída em época bem distante, talvez no século 19, já que as paredes eram de “taipa”, medindo cerca de cinqüenta centímetros de espessura. Já a parte onde se instalava a sacristia e outras salas, havia sido construída recentemente, pois as paredes eram de tijolos.

O espaço da sala onde foi instalado o projetor, não era maior do que cinqüenta metros quadrados, mas podem ter certeza que, mais de cem pessoas se aglomeravam entre os bancos espalhados, além das que permaneciam em pé encostadas nas paredes.

Passar um filme na “Vila”, como carinhosamente era chamada a antiga sede do município, era uma grande façanha !

Para começar, o gerador que produzia a energia elétrica com capacidade para funcionar o projetor era ligado somente das 19 às 21 horas.

O projetor deveria pesar no mínimo uns dez quilos. Os rolos de filmes tinham um diâmetro aproximado de vinte e cinco centímetros, relativamente do tamanho do volante de um fusca aquele de tamanho menor que os jovens da época mais gostavam de usar, sem
falar na lâmpada do projetor, parecendo mais um farol de milha, que quando queimava, já que naquela época não existia estabilizador, a voltagem oscilava muito, dependendo do consumo de energia.

Qualquer chuveiro ou ferro elétrico que fossem ligados e desligados
ao mesmo tempo, alterava a potência da energia, danificando o projetor de filmes, e normalmente a queima da lâmpada.

Ai não tinha jeito. A sessão era interrompida e o restante do filme ficava para a próxima semana.

Certa vez, a notícia que correu pela pequena comunidade, é que seria exibido o filme “O Direito de Nascer”, no qual o ator principal era o Albertinho Limonta, filme esse também transmitido pelas Rádios AM, em forma de novela, e se não me falha a memória, foi a mais longa até hoje transmitida.

Eram quatro rolos de filmes. Pelo horário escasso, era impossível passar de uma só vez. Como era apenas um projetor, na troca de cada rolo de filme, perdia-se no mínimo uns quinze minutos. Não teve jeito. O remédio foi passar em quatro semanas. Um rolo em cada domingo. Foi como se faziam naqueles seriados passados nos cinemas das grandes cidades: continua no próximo domingo!

Mas é isso ai. Valeu apena. Num lugarejo, em que na época, como distração tínhamos apenas transmissões através do rádio à pilha e na Freqüência “AM”, improvisar um cinema, levar ao povo simples as maravilhas das cidades grandes, foi de fato um caso inédito. Após a inundação da antiga sede do município, isso jamais ocorreu.

Aproveitando esta narrativa, quero também registrar um caso pitoresco ocorrido com o nosso querido vigário.

Naquela época, para celebrar missas na nossa Paróquia, se não me engano no terceiro domingo do mês, o Padre João Orlando se deslocava da cidade de Santa Isabel, onde também como já dito, era Pároco.

Seu veiculo era uma lambreta e sua vestimenta obrigatória na época, uma batina preta.

Quando vinha pela estrada que ligava Santa Isabel à Igaratá, ao passar pelo sítio do meu tio Nage, onde eu também morava, bem às margens da estrada, o Padre João Orlando, montado na sua lambreta, em “alta” velocidade, uns “trinta” quilômetros por hora, mais ou menos, com a batina esvoaçando, meu tio, poeta, jornalista e muito espirituoso, num tom brincalhão dizia: Lá vai o “Frei Boy” rezar a sua missa!

Pois é caros leitores. Acredito que o projetor de filmes e a lambreta, se não foram vendidos, devem estar expostos em algum museu sacro.

Quanto ao nosso amigo Padre João Orlando e o meu tio Nage, que Deus, os tenha juntos de si, pois já partiram desta, com certeza para uma melhor!

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