segunda-feira, 21 de setembro de 2009

LEMBRANÇAS 7

O valor aprovado pela Câmara Municipal era de CR$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil cruzeiros) que deveriam ser pagos no prazo de trinta dias. A declaração de venda da usina, data de 26 de dezembro de 1956 e o único valor de CR$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros) foi efetuado em maio de 1957. (dados colhidos nos arquivos da Câmara Municipal em 1996).Dessa forma, João Wilke se achava no direito de continuar recebendo dos consumidores, as contas de energia consumidas, já que a divida não havia sido liquidada, restando o valor de CR$ 150.000,00 ( cento e cinqüenta nil cruzeiros). A forma de se calcular o consumo de energia mensalmente, era a seguinte: O Sr. Izaltino Pereira que trabalhava na usina, visitava as residências para anotar quantas lâmpadas que existiam. Lâmpadas de 100 watts era um preço; de 60 watts outro. Chuveiro e ferro elétrico, nem pensar. A usina de pouca potencia não agüentava tanto consumo de energia. As roupas eram passadas com ferros à brasa, e os banhos, tomados em bacias, ou de caneca. Havia também outro sistema. Você aquecia a água no fogão à lenha, temperava a seu gosto com água fria, colocava em um balde, no qual se instalava um chuveiro com uma alavanca para abrir ou fechar a água. Uma roldana era afixada no caibro do telhado do banheiro, e através de uma corda levantava o balde até a altura desejada. O banho tinha que ser bem rápido, pois a água ia aos poucos esfriando.Voltemos ao pagamento do restante da dívida da desapropriação da usina.O não pagamento do restante do valor contratado criou um grande desentendimento. João Wilke, sentindo-se ofendido e lesado, resolveu encaminhar uma carta agressiva à Câmara Municipal, exigindo que se marcasse uma data para o pagamento do restante da dívida. O Prefeito Moacir, não gostando dessa atitude, resolve cortar o fornecimento de energia para as residências que se localizassem nas margens da Estrada do Rio do Peixe, justificando tal atitude, que o gerador da usina não tinha capacidade para tanto consumo. Não havendo transformador, a perda de energia prejudicava os moradores da “Vila”. Acontece que a energia de péssima qualidade fornecida, pois uma lâmpada de 100 watts de potência, mal conseguia iluminar 30 watts. (antigamente se denominava “velas”). Havia também o fornecimento de energia através de um gerador movido a óleo diesel, que funcionava no horário das 19 às 21 horas. Essa energia era de melhor qualidade, pena que era fornecida só por duas horas, já que o consumo de óleo diesel era bem oneroso. Esse gerador foi doado pelo Governo do Estado de São Paulo, conforme ofício nº 104/56 datado de 10 de outubro de 1956, encaminhado pelo Prefeito à Câmara Municipal, salientando a participação do Vereador Francisco Barbosa e do Deputado Estadual Leôncio Ferraz Junior.Voltemos ao assunto. A atitude do Prefeito, foi interpretada como uma retaliação, pois os prejudicados pelo corte da energia foram: o cidadão Jaime dos Santos, os vereadores Antonio de Souza Machado e João Hildebrando Wilke, filho do João Wilke, mais conhecido como Donzinho, o ultimo morador da Estrada do Rio do Peixe até aonde a energia era fornecida.Dia 20 de agosto de 1957. Dia de reunião da Câmara Municipal. Após a leitura da carta de protesto sobre o corte da energia e o não pagamento do restante da dívida, os ânimos foram se exaltando, chegando-se as vias de fatos. Donzinho extremamente nervoso, parte para cima do Prefeito a socos e pontapés. Aí, entra a turma do deixa disso. Aos poucos os ânimos vão se acalmando. Entram num acordo. É marcada nova data de pagamento da dívida e a energia é restaurada aos moradores dos sítios que margeavam a Estrada do Rio do Peixe. Tudo volta a normalidade.Um dos últimos atos do Prefeito Moacir Prianti Chaves, foi a aprovação de um Projeto de Lei que autorizava a liberação de uma verba no valor de CR$ 20.000,00 (vinte mil cruzeiros) para a compra de medicamentos preventivos contra a “Gripe Asiática” que se alastrava pela Capital de São Paulo. As pessoas de mais idade devem se lembrar. Essa foi uma das piores gripes surgidas na época, igualando-se apenas a gripe “Espanhola”. O medo tomava conta de todos. Até na pequena “Vila”, distante da Capital oitenta e quatro quilômetros e com pouca freqüência de paulistanos.Praticamente finda-se o mandato do primeiro prefeito eleito após a Emancipação Política Administrativa do Município de Igaratá ocorrida em 30 de dezembro de 1953!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Lembranças 6

Após a posse do Prefeito Moacir Prianti Chaves, nesse dia não se pensava em nada. Igaratá estava livre para poder dirigir o seu próprio destino. Dia de grande festa!É, meus amigos. Mas todos sabem. Depois de uma grande festa, vem também uma grande ressaca.Dia 2 de janeiro de 1955. É hora de pegar no batente. O Legislativo havia se instalado na primeira sala à direita de quem entrava no casarão. À esquerda, o Executivo instalou a Tesouraria, o Setor de Tributação e a Junta Militar. Nos fundos instalou o Gabinete do Prefeito a Secretaria e o ,Setor de Contabilidade.A Lei 2.456 que emancipou o município, nas formas do § 1º do artigo 11, autorizava o Município de origem (Santa Isabel), a cobrar do novo Município ora criado, a importância de 10% do total da receita arrecadada, tendo sido estimado o valor de CR$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzeiros). Através do ofício nº 6 de 1º de fevereiro de 1955 , o Prefeito solicita autorização da Câmara Municipal para obter um empréstimo de CR$ 60.000,00 (sessenta mil cruzeiros) junto ao Banco Econômico da Bahia S/A para pagar o valor determinado na Lei 2.456, e sobrar um pouco para comprar móveis e materiais de consumo para manutenção do Executivo e do Legislativo.Não é nada fácil assumir uma Prefeitura com “caixa” zero e com contas a pagar!Somente em setembro é que Moacir pode respirar. Através do ofício nº 61 de 20 de setembro de 1955, o Prefeito comunica a Câmara o recebimento de CR$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros) do Governo Federal para ajudar na instalação da Prefeitura e da Câmara Municipal. Que situação difícil a do primeiro prefeito! Somente após nove meses da criação do Município de Igaratá é que veio a ajuda do Governo Federal!Vamos passar para outros fatos também muito interessantes.Nas pesquisas realizadas, pouco pode se apurar pela falta de documentação. Acredito que tenha se perdido ou extraviada quando da mudança da velha para a nova cidade. Alguma coisa ainda restou. Localizei a Lei nº 11 de 5 de março de 1955 que proibia construção de porteiras nas estradas municipais, podendo em caso excepcional, em requerimento deferido pelo Prefeito, com a construção de um mata-burro ao lado. A Lei nº 20 que proibia a criação e retenção de animais dentro do perímetro urbano. Lei muito difícil de ser cumprida à risca. Um caso muito peculiar, digno de se relatar, inédito no Município de Igaratá, pois jamais vi acontecer novamente, foi em abril de 1955. Através do ofício nº 27 de 26 de abril de 1955, é comunicado à Câmara Municipal a transferência do cargo ao Vice-Prefeito, por motivo de saúde. O ofício nº 29 de 2 de maio, comunica ao Presidente da Câmara a devolução do cargo ao titular.Outro caso interessante: para assumir o cargo de tesoureiro ou secretário, era necessário a apresentação de uma carta de fiança. A Lei nº 22 de 21 de maio de 1955, arbitrara os valores de CR$ 15.000,00 (quinze mil cruzeiros) para cada função a ocupar. Poderia ser em dinheiro ou depósito vinculado em caderneta de poupança. Neste caso, o Sr. Francisco Lourenço e a Dª Pedrina Ramos Lourenço, apresentaram ao Prefeito, como garantia, missiva datada de 31 de agosto de 1955, já devidamente aprovada pela Câmara Municipal, dando em garantia um imóvel que possuíam na Rua Capitão Florêncio no valor de CR$ 30.000,00 (trinta mil cruzeiros), para poderem ocupar os cargos já mencionados.O tempo passa e o mundo gira. Moacir sempre pensando em melhorar a condição de vida dos moradores da ainda carinhosamente chamada “Vila”, consegue aprovar projeto, transformado na Lei nº 9 de 6 de abril de 1956, autorizando a desapropriação da Usina de Força e Luz de propriedade do Sr. João Wilke.

Lembranças 5

Nage e Benigno tinham muita influência na capital paulistana. Enfim, todos tinham o que era mais importante: a vontade de se libertarem. O direito do povo da comunidade de dirigir o seu próprio destino!
Quando as forças se unem, quando se luta por um ideal digno de se alcançar, nada é impossível. Após um ano de luta, enfim a vitória chegou.
Finalmente, no dia 30 de dezembro de 1953, foi promulgada e sancionada a Lei nº 2.456 que devolvia ao Distrito a categoria de Município, tanto almejada pela população igarataense.
Inicia-se o ano de 1.954. Ano da mobilização geral dos políticos da Velha Igaratá. Começava a formação dos partidos políticos.
De um lado, surge o PSP- Partido Social Progressista liderado por Benedito Rodrigues de Freitas, mais conhecido pela alcunha de Nhô Nito Vaz. Do outro lado, vem o PSD -Partido Social Democrático liderado por Moacir Prianti Chaves, que se coliga com a UDN - União Democrática Nacional para tentar eleger o primeiro prefeito após vinte anos sob o domínio do Município de Santa Isabel, na categoria de Distrito.
O PSP lança para Prefeito o Sr. Benedito Rodrigues de Freitas e para vice o Sr. José Mendes de Souza, mais conhecido como Zé Vicente. A coligação PSD/UDN lança para Prefeito Moacir Prianti Chaves e para vice o Major Benigno de Alcântara. A eleição correu na maior tranqüilidade jamais vista. Não havia ainda se instalado entre os concorrentes o vírus do poder. A ânsia de derrotar o adversário a qualquer custo! Nessa disputa praticamente amigável, sagra-se vencedora a dupla lançada pela coligação PSD/UDN, ficando dessa forma assim constituídos os dois poderes que iriam a partir de 1.955, dirigir o destino do novo município: Para o Poder Executivo, Prefeito Moacir Prianti Chaves; vice, Benigno de Alcântara. Para o Poder Legislativo os vereadores, Antonio de Souza Machado, José Alves de Almeida, João Hildebrando Wilke, José Augusto Barbosa, João de Souza Ramos, Silvério Peres Filho, Francisco Barbosa, Dr. Nelson Antonio Nistal e Antonio Rodrigues Barbosa..
E agora, meus senhores e minhas senhoras? Aonde seriam instalados os dois Poderes?
Na esquina da Rua Capitão Florêncio com a Rua da Liberdade, existia um casarão construído de taipa, sendo que as paredes chegavam a ter cinqüenta centímetros de espessura que já havia servido como cadeia pública, encontrando-se totalmente abandonado. Para ser utilizado novamente, necessitava de uma grande reforma, principalmente no telhado, pois havia mais goteiras do que as próprias telhas. Naquela época, as telhas utilizadas tinham o formato de casca de tatú.
Moacir não pestanejou: Com recursos próprios, resolve restaurar o velho casarão, para a instalação dos dois poderes. Quanto ao Poder Judiciário, este continuava no Município de Santa Isabel que era e continua sendo a Comarca.
É chegado o dia! 1° de janeiro de 1.955. Dia de grande festa!
Sob aplausos da multidão que se aglomerava por todos os cantos possíveis sob um calor intenso, o Meretíssimo Juiz Eleitoral da Comarca de Santa Isabel, dá posse aos cidadãos eleitos para comporem a Câmara Municipal de Igaratá, que após esse ato assim ficou constituída a Mesa eleita para dirigir os trabalhos: Presidente, Antonio de Souza Machado; Vice, José Alves de Almeida; 1° Secretário, João Hildebrando Wilke; 2º Secretário, José Augusto Barbosa. Em seguida, compareceram à Câmara Municipal os senhores Moacir Prianti Chaves e Benigno de Alcântara, que sob grandes aplausos e ribombar de rojões, tomaram posse na qualidade de Prefeito e Vice.

Lembranças 4

Naquela época, para passar de ano tinha que estudar e muito. O “Seu” Otávio, um negro com altura de um metro e oitenta mais ou menos, pesando uns noventa quilos, não só executava a função de servente, como também tinha a incumbência de, após a chamada da presença dos alunos, com uma folha e um lápis, passava de sala em sala, para que as professora anotassem os nomes dos alunos ausentes. Depois de tudo anotado, lá saia o “Seu” Otávio na caça aos faltosos. Morasse onde morasse, podia contar que lá ia ele chegando: Ó de casa, batendo palmas, por que é que a criança não foi à escola? Se dissessem que estava doente, ele entrava para conferir. Se caso fosse fingimento, além de passar uma raspança nos pais, levava o aluno que, além de ter que participar das aulas, passava um bom tempo de castigo na sala da diretora. Seu nome completo era Otávio Antonio Silvério, que muitos da minha época devem tê-lo conhecido. Depois que voltou a morar em São Paulo, foi Rei Momo de muitos carnavais da capital paulista. Assim foi indo e o tempo passando.Amigos do meu tio Nage começaram a freqüentar o sítio, a conhecer Igaratá e gostar. Vieram: Pedro Bayrão, João Casagrande, Antonio de Souza Machado, mais conhecido como “Seu” Machado e João de Andrade, também mais conhecido como João Caipira. Infelizmente, todos já partiram desta para outra. Aos poucos, começaram a adquirir propriedades. Praticamente já estavam à beira da aposentadoria. Naquela época eram somente trinta anos de serviços prestados para se conseguir esse benefício. Machado e Pedro Bayrão, como meu tio, preferiram comprar sítios fora da “Vila”. Machado comprou um sítio no Bairro do Rio do Peixe, distante quatro quilômetros da “Vila”; Bayrão comprou uma chácara às margens do Rio Jaguari, perto da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes; Casagrande e João Caipira preferiram mais comodidade. Compraram casas na “Vila”.Com o decorrer do tempo foram se conhecendo e fazendo diversas reuniões. Umas vezes no sítio do “Velho” Nage, outras no bar do Seu Miguel, na casa do João Casagrande, enfim, em vários lugares. O que não podia faltar nessas reuniões era a cachaça Nossa Senhora do Patrocínio do alambique do Ignácio Filadelpho Fortes ou Jaguari do João Tolino. Não eram cachaças boas, mas sim ótimas prá ninguém botar defeito. Não davam ressaca de jeito nenhum! Numa dessas reuniões, ficaram conhecendo Moacir Prianti Chaves, José Alves de Almeida, Major Benigno de Alcântara e outras pessoas mais.Dentre os assuntos que conversavam a situação de ser Distrito do Município de Santa Isabel, era o que mais vinha a baila. O que poderiam fazer para mudar essa condição? Com Santa Isabel não poderiam contar. Os recursos financeiros do município eram tão poucos que mal davam para se sustentar como também não tinham interesse nenhum. Do jeito que estava é que não podia ficar.Após várias discussões, chegaram a conclusão que deveriam marchar para a capital. Somente lá o assunto poderia ser resolvido. A idéia era uma só: Haveriam de conseguir de qualquer forma a Emancipação do Município. categoria essa perdida em 21 de maio de 1934 através do Decreto nº 6.488.Começava a odisséia!Nage, Machado, Benigno e Moacir, constantemente viajavam para a capital. Nage tinha muita influência política e muitos amigos.. Além de ter sido candidato a vereador na Capital, aposentara como Diretor Regional dos Correios e Telégrafos de São Paulo. Era jornalista e cronista de vários jornais. Benigno tinha influência na área militar, pois havia se reformado com a patente de Major.

Lembranças 3

Como dizia o Ernesto, “ainda há de chegar o tempo das muié pagá pros home”.Naqueles tempos, isso jamais poderia acontecer. O homem que aceitasse essa afronta, seria ridicularizado. Só o homem tinha o direito de pagar para a mulher.Os tempos mudam. O que o Ernesto dizia, hoje é mais do que natural. Em muitas rodas de amigos, as despesas são “rachadas” , chegando em alguns casos, totalmente pagas pelas mulheres.Voltando ao comercio local, tinham também os seguintes armazéns: Do Dito Prianti, do João Ramos, do Zé Amadeu, do Seu Irineu e do Nhô Nito Vaz. Com exceção do João Ramos e do Nhô Nito Vaz, os demais pertenciam a família Prianti.De todos os armazéns, o mais completo era o do Nhô Nito. Desde agulha até gasolina ele vendia. Era o único que tinha gasolina para vender. Era transportada de Santa Isabel em tambores de 200 litros. O consumo era pouco já que os veículos, sendo o de maior quantidade eram caminhões que transportavam leite para a cooperativa de Santa Isabel. Que eu me lembre, os demais eram o Ford 1951 se não me engano de cor cinza do Mario Tolino, o Jeep Land Rover verde do Ignacinho Fortes e o Volks 1951 branco do Donzinho. Para falar bem a verdade, a gasolina estocada no armazém do Nhô Nito, era apenas para um quebra galho. Os veículos quando viajavam, principalmente para Santa Isabel, no retorno completavam o tanque, pois sabiam da dificuldade que encontrariam se o combustível acabasse em Igaratá. Comumente era mais usada pelos sitiantes para abastecer motores de picadeira de cana, de geradores de energia para carregar baterias que seriam usadas para funcionar rádios, etc.Os bares eram os do Seu Miguel, do Zé Bino e do Antonio Pinheiro. Muito tempo depois, apareceram o da Dona Geralda, do Chico Lourenço que depois passou a pertencer ao “Fritz” e o do João do Bar. Este último tinha uma mesa de “snooker” . Além do futebol e pescaria, era a única distração que tínhamos. Dois eram os alambiques; o do Ignácio Filadelfo Fortes e o do João Tolino. Amigos; aquilo sim que era cachaça da boa! Feita da cana de açúcar bem madura sem mistura alguma. Açougue era o Dito Barbosa. Normalmente passava de mão em mão, já que o consumo de carne era um boi por semana abatido no sábado de manhã. Quanto ao estudo, com exceção das salas na zona rural em que a professora administrava aulas do primeiro ao quarto ano, pois assim era denominada a elevação do grau de aprendizado, na “Vila” só tinha um Grupo Escolar com quatro salas de aulas. Diploma se “tirava” ao completar o quarto ano. O meu eu tirei em 1952, sem repetir um ano si quer. A professora era a Dona Maria Aparecida de Oliveira, a Diretora a Dona Maria Adelaide Porto e o servente Seu Otávio Antonio Silvério.

Lembranças 2

Como dito na edição anterior, meu tio conseguiu finalmente comprar a chacrinha. Aí então tínhamos aonde pernoitar, não mais sendo preciso retornar a capital no mesmo dia.Nos fundos da chacrinha passava o Ribeirão das Palmeiras que era a divisa natural de um sítio de 14 alqueires de propriedade do Sr. Harry Hart, de nacionalidade inglesa, residente e domiciliado na capital. Esse sítio só tinha uma entrada que era pelo Bairro do Rio do Peixe, bem longe da “Vila” e de difícil acesso. Meu pai e meu tio souberam que estava a venda. Como o Sr. Harri morava na capital, com ele a compra do sítio foi mais fácil. Coube para cada um a importância de R$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros) moeda corrente da época. Cada um então, ficou com 7 alqueires. Meu tio ficou com a parte que margeava o Ribeirão das Palmeiras que, após a construção de uma ponte, fundiu-se com a chacrinha.Nessa época, Igaratá era Distrito de Santa Isabel. Essa situação não agradava nem um pouco os moradores da “Velha Igaratá, que distava 24 quilômetros da sede do Município de Santa Isabel que também era sede de Comarca, e ficava em total abandono. De certa forma, talvez não houvesse interesse algum que o distrito prosperasse, podendo um dia se desmembrar, tornando-se independente. Evidentemente, a receita a receita do Município que já não era muita coisa, diminuiria muito mais.A Vila de Igaratá, incluindo a Rua da Palha, considerada um pequeno povoado que distava uns quinhentos metros , no total não tinha mais que 122 casas, incluindo-se as casas comerciais, já que na própria residência, na parte da frente se localizava o bar ou armazém, exceção o armazém do Nho Nito Vaz, que falaremos oportunamente. A zona rural tinha aproximadamente o dobro das casas da zona urbana que, na época das chuvas ficavam praticamente isoladas, já que as estradas ficavam quase que totalmente intransitáveis. Não havia conservação alguma. Só era possível locomoção a cavalo, carroça, charrete ou então de carona no caminhão que transportava o leite, pois este usava as famosas “correntes” nos pneus traseiros. Até a estrada estadual que ligava Igaratá à Santa Isabel, no Bairro do Barro Branco, onde hoje se localiza a ponte sobre a Represa do Jaguari na Rodovia D. Pedro I, era impossível a travessia de qualquer veículo motorizado, com exceção de Jipes ou tratores.Era obrigatória a “baldeação”. Um ônibus ia de Igaratá, outro vinha de Santa Isabel. Demoravam-se uns trinta minutos para superar o morro do Barro Branco. Não era nada fácil! Até o pequeno comercio da Vila se sentia prejudicado. Casas comerciais eram poucas. Brasiliano fabricava gaiolas de taquara do Reino e pão de ló. Seu filho Ernesto, era especialista em fabricar forro de taquara póca para casas, esteiras e jacás para transporte de materiais e alimentos no lombo de burros. Tudo era feito artesanalmente. Até as taquaras tinham a época certa para cortar. Somente na lua minguante e nos meses que não tem a letra “R”; maio, junho, julho e agosto. Praticamente no inverno. Se cortasse em outra época ou lua, com certeza os artesanatos iriam carunchar. Brasiliano e Ernesto já não vivem mais entre nós. Ernesto, muitos ainda o conheceram. Nos últimos anos de sua vida morou lá nas bandas da Prainha. Muito brincalhão, tinha uma risada marcante. Além d muito estridente, se tivesse instrumento para medir, ultrapassaria cem decibéis com duração de mais de quinze segundos. Havia certa frase e o Ernesto sempre que tinha oportunidade, não deixava de narrar:Antes que o mato cresça, quero ver o que a cobra come! Ainda há de chegar o tempo da mulher pagar para o homem!

Lembranças 1

Nos primórdios de 1949, foi quando a minha família conheceu a “Velha Igaratá”. Naquela época eu contava com oito anos de idade. Não sei como o meu tio, o “Velho Nage”, pseudônimo de Antonio Genaro Rodrigues descobriu aquela maravilhosa e inesquecível terrinha. Muitas coisas ainda me vêem na lembrança. Morávamos na Capital de São Paulo, na Rua Joaquim Nabuco n.º 100, no Bairro do Brás. A sua direita de quem olhava do Largo da Concórdia, a rua paralela era a Rua Dr. Almeida Lima, bem próxima da estação de trem mais conhecida na época como Estação do Norte. Foi aí! Aí é que meu tio descobriu a existência de Igaratá, porque da esquina com a Avenida Rangel Pestana partia o ônibus. Era a única empresa. Se não me falha a memória, o proprietário era o Miguel Turco, residente em Santa Isabel. O motorista era o Adamastor e o cobrador era o Dito Curruira. Dois eram os horários que partiam de São Paulo para Igaratá: as 8,00 e as 16,00 horas.Num certo domingo saímos para um passeio. Destino Igaratá. Partimos às 8,00 hs. Vou detalhar como era feito o itinerário: Ponto inicial; esquina da Rua Almeida Lima com a Avenida Rangel Pestana. Seguia pela Avenida Rangel Pestana, Celso Garcia, passando pelos Bairros da Penha, São Miguel Paulista e Monte Belo. Este último, já na Estrada Velha Rio/São Paulo. Parada obrigatória de quinze minutos para possíveis necessidades fisiológicas. O Adamastor aproveitava para fazer um cigarrinho de palha que ele apreciava muito. Seguindo seu destino, passava por Itaquaquecetuba, Arujá chegando em Santa Isabel, parada também obrigatória mas de uma hora para almoço do motorista e do cobrador. Os passageiros que desejassem, poderiam lanchar, tomar água ou refrigerante como dar umas voltas pela praça para desenferrujar as pernas, já que haviam passado três horas sentados. Santa Isabel ainda era bem pequena. O ponto de parada era bem no centro da Praça da Bandeira, ao lado do coreto.Às 11,00 hs. Partíamos para Igaratá. Entre as 12,00 e 12,15 hs. Chegávamos ao nosso destino. Igaratá! Pouco mais de quatro horas de viagem.Nossa parada: Armazém da Dona Maria Evangelista, esposa do Seu Joanico, mais conhecida como “Dona Maria da Ponte”, armazém esse localizado bem as margens do Rio Jaguari, distante da “Vila” como era carinhosamente chamada a pequena cidade, apenas um quilometro. Bem perto, talvez uns cem metros, também as margens do Jaguari, era aonde íamos lanchar. A inesquecível Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Ficava localizada numa estradinha estreita que terminava no Sítio do Dito Camilo. À tarde, regressávamos para a Capital. O ônibus saia às 16,00 hs. fazendo o mesmo trajeto inversamente. Chegávamos a Capital às 20,00 hs.Num desses passeios, meu tio Nage ficou conhecendo o Sr. João Wilke, proprietário da pequena Usina Elétrica localizada apenas trezentos metros da ponte do Rio Jaguari. Entre a usina e a ponte do Rio Jaguari onde se localizava o armazém da Dona Maria, João Wilke possuía uma chacrinha com a área de um alqueire, tendo como divisores a Usina Elétrica, Estrada de Rodagem Igaratá/Santa Isabel, Armazém da Dona Maria e nos fundos o Ribeirão das Palmeiras.Meu tio e meu pai, entusiasmados com a tranqüilidade , água e ar puros, resolveram transferir a residência para a “Velha Igaratá”. Após várias tentativas para comprar a chacrinha do João Wilke, pois Dona Mariquinha, sua esposa, sempre dificultava a transação. A cada semana o preço subia! Numa última tentativa, após discussão ferrenha entre o casal vendedor, meu tio conseguiu fechar o negócio. A compra enfim foi realizada!