segunda-feira, 21 de setembro de 2009
LEMBRANÇAS 7
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Lembranças 6
Após a posse do Prefeito Moacir Prianti Chaves, nesse dia não se pensava em nada. Igaratá estava livre para poder dirigir o seu próprio destino. Dia de grande festa!É, meus amigos. Mas todos sabem. Depois de uma grande festa, vem também uma grande ressaca.Dia 2 de janeiro de 1955. É hora de pegar no batente. O Legislativo havia se instalado na primeira sala à direita de quem entrava no casarão. À esquerda, o Executivo instalou a Tesouraria, o Setor de Tributação e a Junta Militar. Nos fundos instalou o Gabinete do Prefeito a Secretaria e o ,Setor de Contabilidade.A Lei 2.456 que emancipou o município, nas formas do § 1º do artigo 11, autorizava o Município de origem (Santa Isabel), a cobrar do novo Município ora criado, a importância de 10% do total da receita arrecadada, tendo sido estimado o valor de CR$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzeiros). Através do ofício nº 6 de 1º de fevereiro de 1955 , o Prefeito solicita autorização da Câmara Municipal para obter um empréstimo de CR$ 60.000,00 (sessenta mil cruzeiros) junto ao Banco Econômico da Bahia S/A para pagar o valor determinado na Lei 2.456, e sobrar um pouco para comprar móveis e materiais de consumo para manutenção do Executivo e do Legislativo.Não é nada fácil assumir uma Prefeitura com “caixa” zero e com contas a pagar!Somente em setembro é que Moacir pode respirar. Através do ofício nº 61 de 20 de setembro de 1955, o Prefeito comunica a Câmara o recebimento de CR$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros) do Governo Federal para ajudar na instalação da Prefeitura e da Câmara Municipal. Que situação difícil a do primeiro prefeito! Somente após nove meses da criação do Município de Igaratá é que veio a ajuda do Governo Federal!Vamos passar para outros fatos também muito interessantes.Nas pesquisas realizadas, pouco pode se apurar pela falta de documentação. Acredito que tenha se perdido ou extraviada quando da mudança da velha para a nova cidade. Alguma coisa ainda restou. Localizei a Lei nº 11 de 5 de março de 1955 que proibia construção de porteiras nas estradas municipais, podendo em caso excepcional, em requerimento deferido pelo Prefeito, com a construção de um mata-burro ao lado. A Lei nº 20 que proibia a criação e retenção de animais dentro do perímetro urbano. Lei muito difícil de ser cumprida à risca. Um caso muito peculiar, digno de se relatar, inédito no Município de Igaratá, pois jamais vi acontecer novamente, foi em abril de 1955. Através do ofício nº 27 de 26 de abril de 1955, é comunicado à Câmara Municipal a transferência do cargo ao Vice-Prefeito, por motivo de saúde. O ofício nº 29 de 2 de maio, comunica ao Presidente da Câmara a devolução do cargo ao titular.Outro caso interessante: para assumir o cargo de tesoureiro ou secretário, era necessário a apresentação de uma carta de fiança. A Lei nº 22 de 21 de maio de 1955, arbitrara os valores de CR$ 15.000,00 (quinze mil cruzeiros) para cada função a ocupar. Poderia ser em dinheiro ou depósito vinculado em caderneta de poupança. Neste caso, o Sr. Francisco Lourenço e a Dª Pedrina Ramos Lourenço, apresentaram ao Prefeito, como garantia, missiva datada de 31 de agosto de 1955, já devidamente aprovada pela Câmara Municipal, dando em garantia um imóvel que possuíam na Rua Capitão Florêncio no valor de CR$ 30.000,00 (trinta mil cruzeiros), para poderem ocupar os cargos já mencionados.O tempo passa e o mundo gira. Moacir sempre pensando em melhorar a condição de vida dos moradores da ainda carinhosamente chamada “Vila”, consegue aprovar projeto, transformado na Lei nº 9 de 6 de abril de 1956, autorizando a desapropriação da Usina de Força e Luz de propriedade do Sr. João Wilke.
Lembranças 5
Quando as forças se unem, quando se luta por um ideal digno de se alcançar, nada é impossível. Após um ano de luta, enfim a vitória chegou.
Finalmente, no dia 30 de dezembro de 1953, foi promulgada e sancionada a Lei nº 2.456 que devolvia ao Distrito a categoria de Município, tanto almejada pela população igarataense.
Inicia-se o ano de 1.954. Ano da mobilização geral dos políticos da Velha Igaratá. Começava a formação dos partidos políticos.
De um lado, surge o PSP- Partido Social Progressista liderado por Benedito Rodrigues de Freitas, mais conhecido pela alcunha de Nhô Nito Vaz. Do outro lado, vem o PSD -Partido Social Democrático liderado por Moacir Prianti Chaves, que se coliga com a UDN - União Democrática Nacional para tentar eleger o primeiro prefeito após vinte anos sob o domínio do Município de Santa Isabel, na categoria de Distrito.
O PSP lança para Prefeito o Sr. Benedito Rodrigues de Freitas e para vice o Sr. José Mendes de Souza, mais conhecido como Zé Vicente. A coligação PSD/UDN lança para Prefeito Moacir Prianti Chaves e para vice o Major Benigno de Alcântara. A eleição correu na maior tranqüilidade jamais vista. Não havia ainda se instalado entre os concorrentes o vírus do poder. A ânsia de derrotar o adversário a qualquer custo! Nessa disputa praticamente amigável, sagra-se vencedora a dupla lançada pela coligação PSD/UDN, ficando dessa forma assim constituídos os dois poderes que iriam a partir de 1.955, dirigir o destino do novo município: Para o Poder Executivo, Prefeito Moacir Prianti Chaves; vice, Benigno de Alcântara. Para o Poder Legislativo os vereadores, Antonio de Souza Machado, José Alves de Almeida, João Hildebrando Wilke, José Augusto Barbosa, João de Souza Ramos, Silvério Peres Filho, Francisco Barbosa, Dr. Nelson Antonio Nistal e Antonio Rodrigues Barbosa..
E agora, meus senhores e minhas senhoras? Aonde seriam instalados os dois Poderes?
Na esquina da Rua Capitão Florêncio com a Rua da Liberdade, existia um casarão construído de taipa, sendo que as paredes chegavam a ter cinqüenta centímetros de espessura que já havia servido como cadeia pública, encontrando-se totalmente abandonado. Para ser utilizado novamente, necessitava de uma grande reforma, principalmente no telhado, pois havia mais goteiras do que as próprias telhas. Naquela época, as telhas utilizadas tinham o formato de casca de tatú.
Moacir não pestanejou: Com recursos próprios, resolve restaurar o velho casarão, para a instalação dos dois poderes. Quanto ao Poder Judiciário, este continuava no Município de Santa Isabel que era e continua sendo a Comarca.
É chegado o dia! 1° de janeiro de 1.955. Dia de grande festa!
Sob aplausos da multidão que se aglomerava por todos os cantos possíveis sob um calor intenso, o Meretíssimo Juiz Eleitoral da Comarca de Santa Isabel, dá posse aos cidadãos eleitos para comporem a Câmara Municipal de Igaratá, que após esse ato assim ficou constituída a Mesa eleita para dirigir os trabalhos: Presidente, Antonio de Souza Machado; Vice, José Alves de Almeida; 1° Secretário, João Hildebrando Wilke; 2º Secretário, José Augusto Barbosa. Em seguida, compareceram à Câmara Municipal os senhores Moacir Prianti Chaves e Benigno de Alcântara, que sob grandes aplausos e ribombar de rojões, tomaram posse na qualidade de Prefeito e Vice.
Lembranças 4
Lembranças 3
Lembranças 2
Como dito na edição anterior, meu tio conseguiu finalmente comprar a chacrinha. Aí então tínhamos aonde pernoitar, não mais sendo preciso retornar a capital no mesmo dia.Nos fundos da chacrinha passava o Ribeirão das Palmeiras que era a divisa natural de um sítio de 14 alqueires de propriedade do Sr. Harry Hart, de nacionalidade inglesa, residente e domiciliado na capital. Esse sítio só tinha uma entrada que era pelo Bairro do Rio do Peixe, bem longe da “Vila” e de difícil acesso. Meu pai e meu tio souberam que estava a venda. Como o Sr. Harri morava na capital, com ele a compra do sítio foi mais fácil. Coube para cada um a importância de R$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros) moeda corrente da época. Cada um então, ficou com 7 alqueires. Meu tio ficou com a parte que margeava o Ribeirão das Palmeiras que, após a construção de uma ponte, fundiu-se com a chacrinha.Nessa época, Igaratá era Distrito de Santa Isabel. Essa situação não agradava nem um pouco os moradores da “Velha Igaratá, que distava 24 quilômetros da sede do Município de Santa Isabel que também era sede de Comarca, e ficava em total abandono. De certa forma, talvez não houvesse interesse algum que o distrito prosperasse, podendo um dia se desmembrar, tornando-se independente. Evidentemente, a receita a receita do Município que já não era muita coisa, diminuiria muito mais.A Vila de Igaratá, incluindo a Rua da Palha, considerada um pequeno povoado que distava uns quinhentos metros , no total não tinha mais que 122 casas, incluindo-se as casas comerciais, já que na própria residência, na parte da frente se localizava o bar ou armazém, exceção o armazém do Nho Nito Vaz, que falaremos oportunamente. A zona rural tinha aproximadamente o dobro das casas da zona urbana que, na época das chuvas ficavam praticamente isoladas, já que as estradas ficavam quase que totalmente intransitáveis. Não havia conservação alguma. Só era possível locomoção a cavalo, carroça, charrete ou então de carona no caminhão que transportava o leite, pois este usava as famosas “correntes” nos pneus traseiros. Até a estrada estadual que ligava Igaratá à Santa Isabel, no Bairro do Barro Branco, onde hoje se localiza a ponte sobre a Represa do Jaguari na Rodovia D. Pedro I, era impossível a travessia de qualquer veículo motorizado, com exceção de Jipes ou tratores.Era obrigatória a “baldeação”. Um ônibus ia de Igaratá, outro vinha de Santa Isabel. Demoravam-se uns trinta minutos para superar o morro do Barro Branco. Não era nada fácil! Até o pequeno comercio da Vila se sentia prejudicado. Casas comerciais eram poucas. Brasiliano fabricava gaiolas de taquara do Reino e pão de ló. Seu filho Ernesto, era especialista em fabricar forro de taquara póca para casas, esteiras e jacás para transporte de materiais e alimentos no lombo de burros. Tudo era feito artesanalmente. Até as taquaras tinham a época certa para cortar. Somente na lua minguante e nos meses que não tem a letra “R”; maio, junho, julho e agosto. Praticamente no inverno. Se cortasse em outra época ou lua, com certeza os artesanatos iriam carunchar. Brasiliano e Ernesto já não vivem mais entre nós. Ernesto, muitos ainda o conheceram. Nos últimos anos de sua vida morou lá nas bandas da Prainha. Muito brincalhão, tinha uma risada marcante. Além d muito estridente, se tivesse instrumento para medir, ultrapassaria cem decibéis com duração de mais de quinze segundos. Havia certa frase e o Ernesto sempre que tinha oportunidade, não deixava de narrar:Antes que o mato cresça, quero ver o que a cobra come! Ainda há de chegar o tempo da mulher pagar para o homem!